Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura. De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor”. (Lc 2:11-14)
Não é novidade que o Natal é uma data mundialmente
comemorada, sendo, para a maioria absoluta dos cristãos (e até não-cristãos), a
principal festa no calendário anual. Por conta da época, algumas expressões se
tornaram lugar-comum, como: espírito do Natal, magia do Natal etc.
Outra faceta dessa festa é o aspecto comercial. De acordo
com as associações de lojistas, o Natal continua sendo a época que mais
movimenta o comércio e, por conseguinte, que mais ganhos proporciona. Afinal,
quem não gosta de passar o Natal com roupa nova? Isso, sem falar nos presentes,
que são responsáveis por uma parcela considerável das compras de fim de ano e,
portanto, do endividamento das pessoas.
É comum nessa época ouvirmos questionamentos acerca da
(des)sacralização da festa. Em outras palavras: se o Natal é ou não uma festa
verdadeiramente cristã. Afinal, até que ponto é espiritualmente salutar
comemorar essa data? Celebrar o Natal fere a minha fé?
O Natal e o paganismo
Muito se tem falado no meio evangélico acerca da origem pagã
do Natal, sobretudo a ala, digamos, mais puritana. Primeiramente, há que se
considerar que há mais de uma versão da suposta origem da festa no paganismo.
A primeira delas, e a mais propalada, é aquela que diz ser o
Natal uma nova roupagem da festa celebrada pelos persas, em homenagem ao seu
deus Mithra, o Sol Invicto (Natalis Solis
Invictis, ou Nascimento do Sol Invicto), no dia 25 de dezembro, uma festa
marcada por orgias e embriaguez.
Outra conhecida versão associa o Natal à antiga festa romana
chamada Brumália, que acontecia exatamente no dia 25 de dezembro, logo após a
Saturnália (festividade em honra do deus romano Saturno, que se estendia do dia
17 a 24 de dezembro). É sabido que a Brumália era mais uma homenagem ao deus
Baco; portanto, não poderia faltar a libertinagem, regada a muito vinho (Baco
era o deus do vinho para os romanos).
Há ainda outra versão, e a mais esdrúxula de todas: aquela
que defende a origem do Natal no personagem bíblico Nimrode (cujo significado é
“rebelar”), que teria nascido em 25 de dezembro. Ninrode era filho de Cuxe,
filho de Cam, filho de Noé. De acordo com o relato do livro de Gênesis, Ninrode
foi um homem poderoso na terra (Gn 10:8-9); foi ainda o fundador da cidade de
Nínive (Gn 10:11) e o provável responsável pela construção da torre de Babel
(Gn 11:1-9). O motivo de associar Ninrode ao Natal deve-se ao fato de Babel ser
considerada a gênese do império babilônico (Babel foi a primeira capital da
Babilônia).
Especulações à parte, é sabido que o Natal foi incorporado ao
calendário religioso, pelo imperador Constantino, no ano 354 d.C. Vale lembrar
que Constantino foi o imperador responsável pela junção da Igreja ao Estado
romano, tornando o Cristianismo a religião oficial do império, após sua suposta
conversão à fé dos apóstolos de Jesus, no ano 312 d.C. Essa data é identificada
pelos cristãos evangélicos como o início da Igreja Católica Romana, haja vista
que o próprio imperador tornou-se, oficial e historicamente, o primeiro sumo-pontífice.
Pelo que se sabe, Constantino não abandonou suas práticas pagãs, conservando,
até o final de seus dias, a adoração às suas divindades romanas e gregas, ao
mesmo tempo em que declarava sua nova fé cristã. Na realidade, a partir daí o
que Constantino fez foi dar início a uma prática que se tornou uma constante na
Igreja Romana: a mistura de elementos, símbolos e práticas pagãos aos costumes
e padrões cristãos, dando origem a uma nova religião, largamente identificada
pelos teólogos modernos como romanismo, mais conhecido como catolicismo, ou
ainda catolicismo romano.
Fontes históricas informam que o imperador romano era
adorador do deus-Sol (o Sol Invicto), o que o teria levado a dar um novo
significado ao dia 25 de dezembro, que passou a ser uma data cristã, o dia do
Natal do Filho de Deus (e não mais Natal do Sol Invicto).
O dia 25 de dezembro
"Ora, havia naquela mesma região pastores que estavam
no campo,
e guardavam os seus rebanhos, durante as vigílias da noite." (Lc 2:8)
Alguns argumentam ser errado comemorar o Natal no dia 25 de
dezembro pelo simples fato de, originalmente, essa data ser dedicada ao Sol
Invicto.
A bem da verdade, embora não seja possível precisar a data
correta do nascimento do Salvador, podemos asseverar que esse dia não foi 25 de
dezembro. Na Judéia, no mês de dezembro é inverno, marcado por frio e muita
chuva, o que leva os pastores a recolherem o rebanho dos campos desde o mês de
outubro.
Outro argumento diz respeito ao recenseamento decretado pelo
imperador Cesar Augusto, que jamais aconteceria no período invernal (Lc 2:1).
O período mais provável para o texto de Lucas é o outono,
que equivale ao nosso mês de setembro, cerca de seis meses após a Páscoa. Vale
lembrar que, nesse período, acontece a Festa dos Tabernáculos, cujo significado
é, literalmente, que Deus veio “tabernacular” (morar) conosco.
Os Símbolos Natalinos
Outra controvérsia gira em torno dos símbolos natalinos e
suas origens.
A árvore de Natal, por exemplo, está associada ao antigo
costume pagão de adorar árvores, uma vez que, normalmente, cada divindade era
associada a uma árvore. Outra versão diz que a árvore tem origem em Ninrode (o
mesmo da Torre de Babel), que após sua morte passou a ser adorado através da
imagem de um pinheiro. Entretanto, o próprio Martinho Lutero, que protagonizou
a Reforma Protestante, no século XVI, teria incluído a árvore como um enfeite
natalino, destituída de qualquer intenção de culto.
O bom velhinho, popularmente conhecido como Papai Noel, tem
sua origem em São Nicolau, um bispo romano do século V, que teria se
notabilizado por distribuir presentes entre os pobres e crianças carentes.
Conforme a tradição católica, Nicolau, que se tornou santo, passou a ser
venerado no dia 6 de dezembro, data alterada para o dia 25 em função do Natal.
Tradicionalmente, o velhinho também dado origem ao costume de dar e receber
presentes nessa época.
O presépio, representação do momento em que o menino Jesus
encontra-se em uma manjedoura, ao lado de Maria e José, juntamente com os
pastores (ou com os magos do oriente), de acordo com a tradição católica, teve
início no ano 1223, na Itália, quando o frade católico Giovanni di Pietro di
Bernardone (popularmente conhecido como São Francisco de Assis) decidiu montar
um cenário com os personagens do presépio, durante a missa de Natal. Apesar da
tradição, muitos cristãos associam o presépio com a idolatria, desaconselhando
seu uso como decoração de Natal.
Guirlandas e luzes são igualmente associadas a costumes
pagãos. As guirlandas teriam origem no antigo costume de se adornar edifícios
com coroas feitas de ramos verdes, nas festividades pagãs. As luzes seriam
usadas para reanimar o deus-Sol, ao final do dia.
Natal sem Jesus
Veja que a tradição não deve substituir a essência. Para que
o Natal seja, verdadeiramente, uma festa cristã é imprescindível que haja o
Cristo! Não é concebível comemorar o aniversário de Jesus sem o próprio Jesus.
O Natal de Jesus não deve ser uma tradição vazia, regada a
bebedices e glutonarias, aproximando-o dessa forma às antigas festividades
pagãs. Precisa, sim, ser uma oportunidade de proclamar entre os familiares e amigos que o Filho de Deus se fez carne e tornou-se o Emanuel, Deus Conosco:
“E o Verbo se fez carne, e habitou (tabernaculou) entre nós, e vimos a
sua glória como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (Jo 1:14)
* Esta mensagem foi pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 21/12/2014.
REFERÊNCIAS: