terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sobre Fariseus e Publicanos

Fariseus e publicanos são constantemente citados em diversas situações apresentadas no Novo Testamento. Muitas histórias narradas nos evangelhos apresentam vários representantes das duas classes, permitindo-nos entender suas particularidades, suas razões (ou a falta delas), costumes e motivações. Muitos desses personagens ganharam notoriedade, sendo lembrados simplesmente pelas alcunhas “fariseu” ou “publicano”.

Quem (ou o que) eram os fariseus? O que eles seguiam e defendiam? Qual a implicação de ser fariseu? Afinal, como podemos categorizar os fariseus: como boa ou má classe? Existem fariseus em nossos dias?

E o que dizer dos publicanos? O que fazia um publicano? Qual a reputação dos publicanos junto à sociedade da época?

A SUPREMACIA DO FARISAÍSMO

A primeira referência aos fariseus é encontrada em Mt 3:7, quando João Batista os chama de “raça de víboras”. E não é necessário explicar o sentido da expressão de João.

Quanto à origem dos fariseus, é sabido que eles eram descendentes espirituais dos judeus piedosos que haviam lutado contra os helenistas no tempo dos Macabeus, no século II a.C. O termo fariseu significa “separatista” ou “separado” (do hebraico “prushim”), tendo sido atribuído provavelmente por seus opositores. Outra versão diz que esse título foi usado com escárnio, uma vez que a severidade do grupo os separava dos demais judeus; não é por acaso que eles também eram conhecidos como “a verdadeira comunidade de Israel”.

A seita dos fariseus era caracterizada pela devoção à Torá (a Lei Judaica), pela rigidez com que seguiam os preceitos judaicos (o próprio Paulo chama de “a seita mais severa de nossa religião” – At 26:5), pela criação de uma Lei Oral (que usavam e apregoavam como complementar à Lei escrita) e, consequentemente, pela reputação como autoridades nas Escrituras. Além disso, Lucas os identifica como sendo avarentos (Lc 16:14).

O que depunha contra o grupo era o fato de suas práticas estarem tão somente baseadas na aparência de serem justos diante dos homens. Era contra isso que o Senhor Jesus protestava quando fazia referência a eles (Mt 5:20; 16:6,12; 23:13-29).

Fariseus conhecidos na Bíblia: Simão, o fariseu que convidou Jesus para comer em sua casa, quando este foi ungido pela mulher do vaso de alabastro (Lc 7:36-50); Nicodemos, que era um dos principais dos judeus, a quem Jesus falou sobre a necessidade de o homem nascer de novo, e que provavelmente se tornou seguidor de Jesus mais tarde (Jo 3:1-21; 19:39); Gamaliel, o membro do Sinédrio e mestre da lei, que defendeu os apóstolos quando estavam sob ameaça de morte pelos principais sacerdotes e membros do Sinédrio, que também fora mestre de Paulo (At 5:34-41; 22:3); Paulo, o apóstolo, antes de sua conversão, atuava como perseguidor dos cristãos (At 8:3; 9:1-2,13-14,21), muito provavelmente em função de sua formação judaica-extremista. Ele mesmo identificava-se como sendo fariseu (At 23:6; 26:5; Fp 3:5).

A FAMA DOS PUBLICANOS

Por definição, publicano (ou “aquele que cuida da coisa pública”) era um servidor do governo romano responsável pela cobrança de impostos e taxas dos cidadãos. Ou seja, um judeu que cobrava impostos do próprio povo para entregá-los ao imperador romano. Além disso, os publicanos tinham a fama de serem ladrões, na medida em que exigiam do povo mais do que era devido. Por esse motivo, o próprio João Batista, quando representantes dessa classe chegavam para serem batizados por ele, e, ao questionarem o que deveriam fazer a partir de então, ele respondia: “Não cobreis mais do que o estipulado” (Lc 3:12-13).

De acordo com alguns estudiosos, havia duas categorias de publicanos: o primeiro grupo (chamados publicanos gerais) era formado pelos responsáveis pela renda do império; o segundo, era composto dos publicanos delegados, que eram nomeados em cada província romana pelos gerais. Era o segundo grupo que ficava com o “trabalho sujo”, uma vez que eram os delegados que faziam o recolhimento. Muito provavelmente, Zaqueu fazia parte do primeiro grupo, já que foi identificado como “maioral dos publicanos” (Lc 19:2).

Jesus foi várias vezes condenado pelos fariseus por se mostrar amigo de publicanos (Mt 9:10-11; 11:19). Isso pode ser explicado pelo fato de os próprios publicanos também serem seguidores do Mestre (Mc 2:15; Lc 15:1). Certa vez, ao ser criticado, Jesus respondeu que “os sãos não precisam de médico, e sim os doentes” (Mt 9:12).

Publicanos conhecidos na Bíblia: Mateus (ou Levi), que era um dos doze discípulos de Jesus, ao ser chamado pelo Mestre para segui-lo, ofereceu um grande banquete em sua casa, na presença de vários outros publicanos (Lc 5:27-30); Zaqueu, que subiu em uma árvore para ver quem era Jesus, quando este passava pela cidade de Jericó, recebeu-o em sua casa e prometeu restituir quatro vezes mais a todos os que extorquiu.

CONCLUSÃO: FARISEU OU PUBLICANO?

Conhecidas as suas particularidades, resta-nos saber que, no universo cristão (ou não), somos fariseus ou publicanos. Alguns assumem a posição (velada ou dissimulada) de fariseu, seja pela erudição e ortodoxia nas doutrinas bíblicas, seja pela exacerbada posição quanto ao cumprimento das ordenanças, seja pela tendência ao “separatismo”, seja pela atitude hipócrita, por se mostrarem mais justos do que os outros. Outros se comportam como publicanos, seja pela aversão à religião, seja pela devoção ao deus “Mamom”, seja pela prática da extorsão, ou simplesmente pela condição de “pecador”.

Se tomarmos como referência os personagens da parábola contada por Jesus, fica fácil definir de que lado ficar. Entrementes, como queremos ser vistos pelos outros: como pessoas zelosas pela prática da Palavra ou como pecadores? Como pessoas que reconhecem a sua condição diante de Deus ou como hipócritas? Como enganadores e ladrões ou como pessoas separadas (“prushim”) para Deus?
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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 15/01/2012.

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