quinta-feira, 24 de junho de 2010

As dicotomias da cruz

Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. (Hb 12:1-2 NVI)

Universalmente conhecida como um dos grandes símbolos do Cristianismo, a cruz aceita um sem-numero de definições, abarcando uma infinidade de significados, dentre os quais: sofrimento, dor, castigo, ignomínia, morte. Mas, por que dizer que a cruz simboliza o Cristianismo se, ao mesmo tempo, está associada a conceitos tão conflitantes com o ideário cristão?

Popularmente conhecida como instrumento romano de tortura, a cruz (do grego tau e do latim crux) tem sua origem em épocas muito mais remotas. Sabe-se que é um dos símbolos humanos mais antigos e é usada por várias religiões[1]. Há registros até mesmo sobre a origem pagã do símbolo: exemplos são as relíquias dos babilônios, assírios e egípcios[2] (neste último caso, a cruz era a Ankh [pronuncia-se "anak"], mais conhecida como Ansata, representada pela figura ao lado, e era usada como símbolo da vida).

Quanto ao fato de se tratar de um instrumento de tortura romana, na Enciclopédia Bíblica do site BíbliaWorldNet encontramos que outros povos também a usavam com a mesma finalidade, dentre os quais: assírios, persas, fenícios, egípcios e gregos[3].

No Dicionário Bíblico do site bibliaonline.net encontramos a seguinte definição para a Cruz:

“A crucificação era um método romano de execução, primeiramente reservado a escravos. Neste ato se combinavam os elementos de vergonha e tortura, e por isso este processo de justiçar os réus era olhado com o mais profundo horror. O castigo da crucificação começava com a flagelação, depois de o criminoso ter sido despojado dos seus vestidos. No azorrague muitas vezes os soldados fixavam pregos, pedaços de osso, e coisas semelhantes, podendo a tortura do açoitamento ser tão forte que às vezes o flagelado morria em conseqüência dos açoites. Geralmente a flagelação era efetuada estando o réu preso a uma coluna.” [4]

Quais são, portanto, as grandes contradições desse multifacetado símbolo?

Símbolo de morte ou representação da vida?  
“tornando-se obediente até a morte e morte de cruz” (Fp 2:8)

A primeira grande dicotomia, diz respeito ao fato de, por um lado, a cruz representar a morte: durante o Império Romano, era o método mais cruel de punição aos criminosos, culminando, inevitavelmente, com a morte. Por outro lado, a mesma cruz tornou-se a representação da própria vida (e vida eterna), em Jesus!

Sinônimo de sofrimento e dor ou alívio diante dos mesmos? 
“...não fazendo caso da ignomínia” (Hb 12:2)

Em segundo lugar, tão horripilante quanto à crucificação eram os preliminares. Antes de ser crucificado, o criminoso deveria passar pela flagelação, o que incluía a surra de chibata (ou azorrague), sem falar na caminhada até o local da crucificação na qual era obrigado a carregar a própria cruz, sendo açoitado ainda no caminho e recebendo toda sorte de injúria e afronta. Em contrapartida, a mesma cruz passou a ser o meio pelo qual todos os homens recebem alívio para suas dores, cura para suas feridas e refrigério para sua alma cansada.

Desfecho da vida ou recomeço?  
“...o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gl 6:14)

A terceira grande dicotomia da cruz está relacionada ao fato de, em um primeiro momento, ela encerrar a vida daquele que foi condenado. Alguns estudiosos defendem que, no período da hegemonia do Império Romano, a cruz era o método destinado à condenação dos piores criminosos, sendo que, muitas vezes, o condenado morria antes mesmo de ser crucificado, tamanha era a rigidez das flagelações. Entretanto, em Cristo, a cruz passou a ser um grande divisor de águas, na medida em que representa o começo de uma nova vida, em que o pecado não tem mais domínio sobre a pessoa.

Ferramenta de castigo ou instrumento da graça?  
“...destruindo por ela a inimizade” (Ef 2:16)

Outra grande dicotomia é aquela concernente à cruz como ferramenta de castigo e, como visto, a pior delas, a despeito dos inúmeros outros expedientes conhecidos para infligir sobre os criminosos. Nada obstante, ao mesmo tempo, foi o instrumento usado por Deus para que, através de seu Filho, os homens fossem alcançados pela graça.

Triunfo do inimigo ou vitória do Filho de Deus?
“...publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2:15)

Por fim, há ainda o fato de que, a princípio, a cruz aparenta ser a derrocada de Cristo e, por conseguinte, do plano de Deus para a humanidade. Você deve estar lembrado daquela cena da produção cinematográfica dirigida por Mel Gibson sobre a paixão de Cristo: quando Jesus expira, o diabo se regozija e com ele o inferno inteiro jubila pela morte do Filho de Deus. Mas, diferentemente do que o inimigo pensava, a morte do Cristo, conforme previsto pelos profetas, foi a representação da vitória de Jesus sobre o domínio do mal, sendo a ressurreição a materialização dessa vitória.

Conclusão 
“...loucura para os que se perdem, mas para nós… poder de Deus”  (1 Co 1:17-18)

A despeito de seu valor para a humanidade, a cruz de Cristo não é um fim em si mesmo. É, sim, o meio pelo qual o Deus Todo-Poderoso oferece aos homens a oportunidade de se verem livres de suas cargas. Nem tampouco é digna de que nos curvemos diante dela, na medida em que já está vazia, ou ainda a usemos como amuleto. Melhor do que a cruz é a mensagem da cruz, é Jesus!
______________________________
* Mensagem proferida em 06/06/2010, na Igreja de Cristo Missionária, por ocasião da celebração da Ceia do Senhor.

Notas:
[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_(símbolo), acesso em 05/06/2010.
[2] http://www.celebrandodeus.com/Artigos/artigo_OrigemDaCruz.asp, acesso em 05/06/2010.
[3] http://www.bibliaworldnet-util.locaweb.com.br/biblia/, acesso em 05/06/2010.
[4] http://www.bibliaonline.net/scripts/dicionario.cgi?procurar=cruz&exata=on&link=bol&lang=BR, acesso em 05/06/
2010.
Bíblia On Line – http://www.bibliaonline.net, acesso em 04/06/2010.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – http://www.priberam.pt/, acesso em 04/06/2010.
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