domingo, 31 de dezembro de 2017

Resoluções


Em sua presunção o ímpio não o busca; não há lugar para Deus em nenhum dos seus planos. (Sl 10:4 NVI)

É comum, ao fim do ano, as pessoas traçarem planos para o ano que se aproxima. Aos mais metódicos, por assim dizer, não falta o famigerado “balanço”, em que rememoramos algumas coisas que fizemos que precisam ser reformuladas, atitudes que precisam ser repensadas, decisões que precisam ser sopesadas.

Mas, afinal, qual é o problema? Onde está o erro em fazer planos? Não é isso que se deve fazer?

Planejar pra quê?

“O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor.” (Pv 16:1 ARA)

“Muitos são os planos no coração do homem, mas o que prevalece é o propósito do Senhor.” (Pv 19:21 NVI)

Você sabe o que é dilema da decisão? É aquela situação que nos coloca entre duas escolhas possíveis e antagônicas entre si. A opção por uma delas traz ganhos, mas também perdas. A grande questão é: qual delas me dá mais resultado ou menos perda? Vejamos um exemplo1:

- No curto prazo, o que me apetece fazer é ir lá para fora brincar.
- No médio prazo, sei que vou obter mais benefícios se ficar em casa a estudar, vou conseguir melhores notas na escola e um emprego melhor.
- No longo prazo, não sei qual das opções me dará melhores recordações.

É isso, normalmente, o que acontece conosco diante da necessidade, ou não, de se fazer planos. Sobretudo, quando consideramos os dois textos retirados do Livro dos Provérbios, citados acima. Em outras palavras, os textos dizem algo como: “De que adianta você fazer planos, se no final Deus vai fazer o que ele quiser?”

Outro detalhe, igualmente importante, quantos de nós temos feito as coisas exatamente como planejamos? Logo, concluímos que o planejamento, por si só, não é tão determinante como pensávamos.

Qual é o plano?

“Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos serão bem-sucedidos.” (Pv 16:3 NVI)

“Os planos bem elaborados levam à fartura; mas o apressado sempre acaba na miséria.” (Pv 21:9 NVI)

Até este ponto, você talvez esteja se questionando sobre a validade dos planos. Ou ainda, esteja pensando que o propósito aqui é de desacreditá-los. Pois bem, veja que os textos mencionados agora enaltecem o elemento chamado planejamento.

Os planos são necessários, sim, àquele que pretende lançar-se em uma nova empreitada, ao que almeja alcançar um certo objetivo, para o atingimento de uma determinada meta. Mas, esse não é o ponto. Veja agora se essas citações corroboram o que a Palavra diz:

“Se quiser derrubar uma árvore na metade do tempo, passe o dobro do tempo amolando o machado.” (Provérbio Chinês)

“Boa sorte é o que acontece quando a oportunidade encontra o planejamento.” (Thomas Edison)

“Planeje seu trabalho para hoje e todos os dias, em seguida, trabalhe o seu plano.” (Margaret Tatcher)

Ora, se planejar (ou não) não é o ponto, qual é então? O ponto é: Você precisa incluir Deus em seus planos!

Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos serão bem-sucedidos.” (Pv 16:3 NVI)

Não adianta planejar, arquitetar, montar estratégias, se o Grande Arquiteto não for incluído em seu projeto. Pode ser aquele plano mais simples, ou o mais elaborado, o Deus que é poderoso para fazer muito mais do que pedimos ou pensamos (Ef 3:20) precisa ser convidado.

Conclusão

O planejamento não é um fim em si mesmo. Nem mesmo a presença dele é garantia de sucesso absoluto. Mas haverá maior probabilidade de nossos projetos darem certo, se houver planejamento prévio.

Para aquele que crê em Deus, o planejamento é igualmente desejável. Porém, para o cristão, não basta planejar. É preciso incluir Deus em seus projetos. Muitos casamentos não dão certo, apesar de, aparentemente, serem promissores, porque o casal esqueceu de convidar a Terceira Pessoa. Muitas sociedades e empreendimentos não são bem-sucedidos, mesmo que carreguem uma ótima ideia, porque Deus não faz parte do projeto.

Planeje, estabeleça metas e objetivos bem definidos, mas não esqueça do principal: convide o Senhor para fazer parte deles.

Deus abençoe seus planos!
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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária – ICM, em 17/12/2017.

1 Retirado do blog: http://ruadoimaginario.blogs.sapo.pt/o-dilema-da-decisao-2752 , acesso em 16/12/2017.

domingo, 26 de novembro de 2017

Novidade de vida


“…assim também andemos nós em novidade de vida” (Rm 6:4)

Você alguma vez já se perguntou o que significa o termo evangelho?

Evangelho (de onde se originam as designações evangélico e evangelista), etimologicamente falando, vem do termo grego euangelion, que significa “boa notícia”, “boas-novas”, “novidade”. É por esse motivo que os quatro primeiros livros do Novo Testamento são chamados Evangelhos. Então, podemos simplesmente dizer: “As boas-novas de Jesus Cristo segundo Mateus, Marcos, Lucas e João”.

Evangelho, portanto, é um termo bem apropriado para contar a história daquele que mudaria definitivamente a história da humanidade. Essa palavra já indica a missão do Filho de Deus: fazer do velho o novo.

A mudança não é linear

Na Bíblia, encontramos diversas referências sobre a necessidade de o indivíduo desejar para si uma nova perspectiva, assumir um novo posicionamento diante de Deus, ter as suas vontades e preferências transformados, desfrutar de uma mudança de mente, dar um novo rumo à sua vida, etc:

“E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” (2 Co 5:17)

"E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12:2)

"Fui crucificado com Cristo. Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim." (Gl 2:20)

Agora, como se processa a mudança operada por Jesus na vida de uma pessoa? Alguns querem crer que ela acontece instantaneamente. Outros acreditam que se trata de um processo homogêneo, que deve ocorrer da mesma forma, independentemente da pessoa. Há ainda aqueles que defendem que a mudança só existe de verdade, se ela for radical, no estilo “da água para o vinho”.

A primeira coisa a considerar é o aspecto da individualidade ou exclusividade. Sabemos que cada pessoa é única, exclusiva. Logo, não podemos esperar que a mudança ocorra da mesma forma com todas as pessoas, ou ainda no mesmo tempo.

Há uma antiga canção que dizia que “a experiência é pessoal, por isso vou vivê-la intensamente”. Ora, se é assim, por que queremos que ela aconteça da mesma forma? Isso sem falar que, na sua infinita sabedoria, Deus tem uma maneira peculiar de tratar com cada uma de suas criaturas.

Ao observarmos a experiência dos discípulos de Jesus, bem como a sua trajetória, podemos perceber que, ao longo de cerca de três anos, eles desfrutaram praticamente das mesmas coisas, ouviram os mesmos discursos, presenciaram muitas vezes os mesmos milagres e receberam os mesmos ensinamentos. Mas, seria correto afirmar que tiveram as mesmas escolhas, ou que seguiram os mesmos caminhos? Se você se der ao trabalho de ler os quatro evangelhos, saberá que cada um dos discípulos tinha a sua própria identidade, que cada um deles respondia de uma maneira peculiar a cada situação. Mesmo no momento crucial – aquele compreendido entre a prisão de Jesus, seu julgamento, seu flagelo, a crucifixão e, finalmente, sua ressurreição –, percebemos que os discípulos reagem diferentemente (ler Mt 26:17-28:15; Mc 14:12-16:18; Lc 22:7-24:49; Jo 18:1-21:24).

Chega de estereótipos!

Essa nossa tendência de querer que a transformação ou conversão aconteça da mesma forma nos leva a criar os estereótipos. Começamos por querer definir o que entendemos como “o padrão de cristão”: o que deve ou não comer, o que deve vestir, os lugares que pode frequentar, as pessoas com quem deve andar, e por aí vai…

Veja que, ao cedermos à tentação de estabelecer esses padrões, esquecemos de que a graça do Senhor é multiforme (1 Pe 4:10). Circunscrever a graça seria o mesmo que limitar o próprio poder de Deus.

Por muito tempo, muitos entendiam que os crentes, por serem pessoas santas, não deveriam frequentar locais como clubes, cinemas e demais eventos sociais, sob pena de não se “contaminar” com os impuros. Tecnologias como a televisão e a internet eram demonizadas por muitos líderes cristãos. Ambientes como estádios de futebol ou arenas de esportes também não seriam aconselháveis. Crente não podia jogar futebol ou outro esporte qualquer, afinal, “jogo é do diabo”. Homens crentes deveriam andar somente de calças compridas (shorts e bermudas seriam uma afronta) e mulheres, de vestidos e saias até os tornozelos.

Por outro lado, a falta de parâmetros pode nos levar à permissividade ou ao desregramento. É imperativo, portanto, considerar o princípio paulino do bom-senso: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm” (1 Co 7:12). Antes de tudo, é preciso questionar-se sobre o que pode ou não ferir a fé.

Andando em novidade de vida
“…assim também andemos nós em novidade de vida” (Rm 6:4)

A expressão “andar em novidade de vida” exprime a ideia de continuidade, de processo contínuo. Essa é a essência da vida cristã.

Desde a nossa conversão ao Caminho, somos desafiados a ir abandonando todas as coisas que são (ou podem se constituir potenciais) empecilhos à maturidade cristã. Isso significa que existem costumes, práticas e interesses que devem ser substituídos, ao mesmo tempo em que outras coisas são circunstanciais, o que significa que abandoná-las (ou não) vai depender de cada pessoa.

Andar em novidade vida é normalmente paulatino. Não se pode exigir que a pessoa que acabou de aceitar a palavra seja transformada como num passe de mágica. Tampouco é aceitável que as más características sejam preservadas. A mudança precisa acontecer (2 Co 5:17). E isso envolve a ação do poder de Deus sobre a vida do crente, mas principalmente a própria vontade deste (Mt 11:12).

Conclusão: mudar é preciso!


A mudança é um processo. Assim como o ciclo da vida, nossa mudança acontece gradativamente, dia a dia. A velocidade vai depender do indivíduo, de suas experiências, de suas peculiaridades. Ainda que lentamente, ela precisa acontecer.

Se você acredita que a mudança já aconteceu em você, pense mais um pouco. Afinal, todo dia é dia de mudança. Todo dia é dia de andar em novidade de vida.

Deus abençoe!

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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 09/04/2017.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Cuida da tua vinha


1 Rs 21:1-14

Acabe foi um daqueles reis que não têm muito boas histórias para contar. Como o sétimo rei de Israel (o chamado Israel Setentrional ou Reino do Norte, que tinha a cidade de Samaria como capital), Acabe foi casado com Jezabel, princesa fenícia, filha de Etbaal, rei dos sidônios (1 Rs 16:31).

O registro bíblico do reinado de Acabe está no livro de 1 Reis, entre os capítulos 16 e 22. Seu reinado foi de muitas conquistas para Israel, durante vinte e dois anos. Porém, o seu reinado pode ser resumido nos seguintes versos bíblicos:

Acabe, filho de Onri, fez o que o Senhor reprova, mais do que qualquer outro antes dele. (1 Rs 16:30 NVI)

Nunca existiu ninguém como Acabe que, pressionado por sua mulher Jezabel, vendeu-se para fazer o que o Senhor reprova.  Ele se comportou da maneira mais detestável possível, indo atrás de ídolos, como faziam os amorreus, que o Senhor tinha expulsado de diante de Israel. (1 Rs 21:26 NVI)

A vinha de Nabote

O texto bíblico descreve Nabote como sendo um israelita da cidade de Jezreel, dono de uma vinha, que ficava ao lado do palácio do rei Acabe, em Samaria. A vinha era herança da família de Nabote (1 Rs 21:3).

Sendo a vinha vizinha ao seu palácio, Acabe pediu que Nabote lhe desse para ser usada como horta. Em troca, o rei daria a Nabote outra ainda melhor, ou então o valor que este lhe pedisse.

Em resposta, Nabote não mostra o menor interesse em negociar a sua vinha, argumentando se tratar de herança familiar. Isso fez com que o rei ficasse indignado, e até deixasse de comer.

Vale ressaltar que Nabote estava amparado pela lei mosaica, que assegurava a manutenção da propriedade pela família (Lv 25:23-28; Nm 36:7-8).

Jezabel: uma mulher manipuladora

É neste ínterim que entra em cena a pessoa da rainha Jezabel. Como arquétipo de mulher dominadora, sendo nos dias de hoje até sinônimo de “mulher promíscua”, “prostituta”, “idólatra” etc., Jezabel (cujo nome significa “Baal exulta” ou “esposa de Baal”), ao saber o motivo da tristeza de seu rei, provocou: “É assim que você age como rei de Israel? Levante-se e coma! Anime-se! Conseguirei para você a vinha de Naboe, de Jezreel” (1 Rs 21:7). Em outras palavras, a rainha estava dizendo: “Deixa comigo!”.

Usando o selo real, Jezabel enviou cartas para os anciãos e aos nobres da cidade de Nabote, ordenando que se apregoasse um jejum e trouxesse Nabote para a frente do povo. Diante dele, deveriam sentar-se dois homens vadios (malignos), para que testemunhassem falsamente contra Nabote. As acusações seriam: blasfêmias contra Deus e contra o rei. Depois disso, o “infrator” deveria ser apedrejado.

Veja que se tratava de uma ordem real (as cartas, apesar de terem Jezabel como autora, foram lacradas com o sinete do rei Acabe). Os homens a cumpriram. A vinha de Nabote agora não tinha mais dono, passando para o domínio do rei.

Cuida da tua vinha, rega a tua grama

Há uma frase retirada de uma postagem nas redes sociais, que diz:

“Se a grama do vizinho parece mais verde, talvez você esteja olhando demais para a dele e deixando de regar a sua.”

Não há nenhum problema em olhar a “grama” ou a “vinha” do vizinho. O problema surge quando esse “olhar” é com cobiça. Outro problema resultante pode ser que o indivíduo fique ocupado demais com as coisas do outro, esquecendo-se de cuidar das suas.

A sua vinha talvez seja a sua própria família. É comum preocuparmo-nos demasiadamente com a família dos outros, ao passo que não cuidamos da nossa própria. Temos o olhar clínico para os “defeitos” dos filhos de outros irmãos, mas passam desapercebidas as “mancadas” dos nossos.

A sua vinha pode ser a sua vida profissional. Passamos muito tempo atentando para os problemas profissionais alheios, sem atentar para as nossas próprias lacunas profissionais. Isso inclui deixar de correr atrás dos nossos sonhos (e fazê-los verdade), para tentar matar os sonhos de outrem.

A sua vinha pode ser o seu ministério. A vida ministerial é um dos aspectos mais observados pelos outros. Isso porque seria a parte, digamos, mais visível. Nosso trabalho no reino deve sempre ser “para o reino”, como sendo fruto do amor que temos pela obra. A palavra alerta sobre o perigo de fazer a obra de Deus de qualquer maneira (Jr 48:10).

Conclusão

Em consequência da cobiça de Acabe, o profeta Elias proferiu a sua condenação: teria a sua descendência exterminada (1 Rs 21:21-24; 22:38; 2 Rs 1:17).

Que tal cuidar da nossa própria vinha!

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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária – ICM, em 12/03/2017.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Chamado para ser um Barnabé


"Da multidão dos que creram, uma era a mente e o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham. (...) Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um. José, um levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé, que significa 'encorajador', vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos." (At 4:32-37).

Para quem é adepto do modelo de discipulado chamado MDA (Modelo de Discipulado Apostólico), não é novidade falar de uma das 4 colunas, conhecida como “Fator Barnabé”.

O Fator Barnabé é , como sabemos, a quarta coluna do modelo, que recebeu esse título de um cristão identificado no livro de Atos como José (At 4:36). José era um levita, natural da famosa ilha mediterrânea de Chipre, a quem os apóstolos apelidaram de Barnabé, palavra que significa “filho da consolação”, que também pode ser traduzida como “consolador”, “encorajador”, “ajudador”.

Para entendermos em que consiste o Fator Barnabé, é imprescindível considerar as qualidades do próprio personagem bíblico. Vejamos:

1. Apresentou Saulo aos apóstolos (At 9:26-31).

Após a conversão de Saulo, este passou vários dias na companhia dos discípulos em Damasco, pregando nas sinagogas algo que os judeus nunca imaginariam: Jesus é o Filho de Deus. Incomodados, os judeus decidiram por matá-lo, mas os discípulos o ajudaram a fugir. Ao chegar em Jerusalém, Saulo procurou os apóstolos para estar com eles. Ocorre que todos temiam não ser verdade que Saulo havia se convertido ao Evangelho.

Foi nesse momento que Barnabé interveio, levando Saulo até a presença dos apóstolos e contando-lhes tudo o que acontecera ao antigo inimigo dos cristãos, no caminho de Damasco.

Veja que, naquele momento, Saulo não era bem visto pela comunidade dos apóstolos. Muitas vezes, será necessário assumir o papel de integrador, intervindo quando diante de certas pessoas que são rejeitadas.

2. Encorajou os novos irmãos em Antioquia (At 11:19-24).

Com a morte de Estêvão (At 7:54-60), seguiu-se intensa perseguição contra a igreja em Jerusalém, causando uma dispersão generalizada dos cristãos pelas regiões da Judéia e Samaria, excetuando-se os apóstolos (At 8:1).

Os irmãos dispersos chegaram a localidades como Fenícia, Chipre e Antioquia, cuja população era composta predominantemente por gentios. Quando os dispersos chegaram a essas localidades, procuravam levar a mensagem apenas aos judeus. Entretanto, um grupo deles, formado por cireneus e cipriotas, foi a Antioquia (cidade síria que tinha cultura grega) e decidiu levar a palavra também aos gregos, o que levou muitos a crerem em Jesus.

Quando os apóstolos souberam o que aconteceu em Antioquia, enviaram Barnabé para lá. Ao chegar, Barnabé se alegrou com aqueles irmãos gregos e os animou a permanecerem fieis ao Senhor, de todo o coração. Foi para isso que Deus nos chamou: para encorajarmos uns aos outros.

3. Passou um ano ensinando os novos irmãos em Antioquia (At 11:25-26).

Depois de desempenhar importante papel junto aos irmãos de Antioquia, Barnabé foi até a cidade de Tarso em busca de Saulo e o levou consigo a Antioquia. Ali estiveram por um ano, ensinando a igreja local. Como é sabido, foi nessa cidade que os discípulos foram chamados pela primeira vez de cristãos.

Ser um Barnabé é implantar a mentalidade do reino na vida dos novos irmãos; é fazer com que eles se identifiquem como cristãos (discípulos de Cristo).

4. Acreditou no potencial de João Marcos (At 15:37-39).

Paulo convidou Barnabé para voltarem às localidades onde haviam pregado a palavra, de modo a saberem como estariam os irmãos. Barnabé sugeriu levarem junto João Marcos, seu primo, como colaborador, mas Paulo não concordou, visto que este já os havia abandonado em outra ocasião, na Panfília (At 13:13). Isso acabou gerando um desentendimento entre Paulo e Barnabé. Paulo seguiu com Silas; Barnabé foi para Chipre, levando Marcos consigo. A partir daí, não vemos mais nenhuma citação de Barnabé.

Em um primeiro momento, podemos pensar que Paulo estaria com a razão, uma vez que Marcos teria demonstrado não ser confiável. Mas, mais tarde, ao escrever aos Colossenses, Paulo recomenda Marcos aos irmãos daquele local, pedindo para que ele fosse bem recebido, quando passasse por lá (Cl 4:10). A Timóteo, Paulo diz que Marcos lhe era “útil para o ministério” (2 Tm 4:11). O que significa que Barnabé estava certo ao querer investir na vida de seu primo. Acredita-se que esse mesmo João Marcos (filho de Maria) tenha sido o autor do Evangelho de Marcos.

Um Barnabé vai sempre acreditar no potencial e na capacidade das pessoas, mesmo que o passado deponha contra elas.

5. Investiu no ministério dos apóstolos (At 4:36-37).

Como sabemos, a comunidade cristã do tempo dos apóstolos era marcada pelo amor, pela unidade, pela comunhão (koynonia), e pela liberalidade, na medida em que compartilhavam tudo o que tinham.
Aqui encontramos a primeira referência a Barnabé. Como um dos maiores exemplos de liberalidade, vendeu uma propriedade e depositou o dinheiro aos pés dos apóstolos. Essa é uma atitude típica de um Barnabé: ser comprometido com o reino, investindo o que estiver ao seu alcance. Veja que a ênfase aqui não é o montante, o quantitativo, mas a atitude, a qualidade.

Conclusão

Todas as qualidades de um Barnabé apresentadas: integrar, encorajar, ensinar, acreditar no potencial e investir no reino, só são evidenciadas quando a pessoa é cheia do Espírito Santo:

“Barnabé era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. E muitos se converteram ao Senhor.” (At 11:24)

Mais do que ser um cristão, você foi chamado por Deus para ser um verdadeiro Barnabé, para ser uma pessoa que está comprometida com a integração, encorajamento e ensino dos novos, que acredita no valor intrínseco das pessoas, que se alegra em poder investir aquilo que dispõe em prol da causa do Evangelho.
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* Inspirada em texto publicado na página https://prandrelda.wordpress.com/fator-barnabe/

* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária – ICM, em 08/01/2017.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Bons Samaritanos ou Maus Cristãos?

Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. (Lc 10:33 NVI)

Sabemos que as parábolas de Jesus, contadas ao longo dos quatro evangelhos, são apenas alegorias, usadas pelo Mestre para repassar seus ensinamentos sobre o Reino aos discípulos e ouvintes em geral.

Na Parábola conhecida como “do Bom Samaritano”, o Senhor responde à provocação de um estudioso da Lei Mosaica, sobre como herdar a vida eterna. (Lc 10:25-37)

O maior mandamento

Certa ocasião, um perito na lei levantou-se para pôr Jesus à prova e lhe perguntou: Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna? O que está escrito na Lei? Respondeu Jesus. Como você a lê? (Lc 10:25-26 NVI)

Veja que a pergunta formulada pelo estudioso (escriba) parece oriunda de uma pessoa realmente interessada em ouvir as verdades de Deus. Sem dúvida, foi aquilo que chamamos de “uma ótima pergunta”. A resposta do Mestre deveria estar à altura. Mas, repare que o Senhor se exime de respondê-la. Ao contrário, Jesus devolve o desafio, pedindo para o próprio intérprete da Lei fazê-lo:

Ele respondeu: Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento e ame o seu próximo como a si mesmo. (Lc 10:27 NVI)

Algumas pessoas, tentando justificar o fato de não aceitarem a Palavra de Deus, acabam por dizer que “a Bíblia é muito complexa”, que seus ensinamentos “não se destinam ao nosso tempo”, que “a Bíblia é retrógrada”, que “os mandamentos são impraticáveis”, que “o texto bíblico é preconceituoso, machista e xenofóbico”, etc.

Se é esse o problema, que tal entender todos os mandamentos de Deus resumidos em apenas dois: amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo?

Quem é o meu próximo?

Essa foi a pergunta do insatisfeito estudioso da lei, quando ouviu Jesus dizer que este havia respondido corretamente e que deveria fazer o mesmo.

A partir da indagação, o Senhor passa a contar a parábola, que é protagonizada por um homem que fora assaltado e espancado, a caminho de Jericó. Na estória, o moribundo é visto por mais três personagens: um sacerdote, um levita e um samaritano, sendo que apenas o último se dispôs a ajudá-lo. Ao final do relato, Jesus questiona o estudioso:

Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes? Aquele que teve misericórdia dele, respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: Vá e faça o mesmo. (Lc 10:36-37 NVI)

Interessante é que o Mestre não pergunta: “de qual dos três o homem foi o próximo?”, mas “qual destes três… foi o próximo?”. A questão não é exatamente quem é o meu próximo, mas se eu sou o próximo de alguém.

Você é bom samaritano ou um mau cristão?

Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. (Lc 10:31-33 NVI)

Fazendo uma aplicação para os nossos dias, quem seriam o sacerdote e o levita? E o samaritano?

Se a análise fosse com relação ao tempo de Jesus, poderíamos dizer que os sacerdotes e levitas representavam a nata do povo judeu, ou os indivíduos mais reputados. Quanto ao samaritano... bem, era um samaritano (uma espécie de “judeu meio-sangue”, ou “quase-judeu”, ou ainda “um estrangeiro querendo ser judeu”).

E nos nossos dias? Grosso modo, o levita e o sacerdote da parábola podem ser equiparados aos líderes religiosos mais piedosos; ao passo que o samaritano, digamos que seria um modelo de “não-crente” ou “não-religioso”.

Em outras palavras, Jesus estaria afirmando que o cuidado e a misericórdia vem de quem menos se espera; que os judeus/cristãos estão deixando a desejar nos aspectos mais elementares da fé, como o cuidado com os outros.

Conclusão

O que o Senhor espera de mim? Pergunte-se a si mesmo.

No final das contas, o importante não é “quem é o meu próximo”, mas “se eu sou o próximo de alguém”. Deus nos chamou também para cuidarmos uns dos outros. Essa é a linguagem do Reino: o amor.

E você? Qual caminho vai escolher?
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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária – ICM, em 27/11/2016.

domingo, 25 de junho de 2017

O Evangelho da Tolerância


Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem o rei.
(1 Pe 2:17 NVI)


É um erro comum, para quem vê de fora, associar a Bíblia e o Evangelho ao que é intolerante, ou então entender que a Bíblia e os cristãos são contrários à prática da tolerância.

Em parte, isso pode ser explicado pelo fato de que a Bíblia condena algumas práticas, que são, digamos, condenáveis. Afinal, o Evangelho não se trata, em absoluto, de uma proposta para massagear o ego do pecador.

O que é intolerância

Mas, afinal, o que entendemos como intolerância?

Por definição, somos intolerantes quando desrespeitamos a outrem pela posição que ocupa (quer superior ou subalterno); somos intolerantes quando ofendemos a alguém pela sua opinião ou escolha; deixamos transparecer nossa intolerância no momento em que agredimos (verbal ou fisicamente) aqueles cuja posição não coaduna com a nossa; a intolerância existe ainda quando humilhamos uma pessoa por sua cor, raça, língua, credo, sexo, posição social, cultura ou valores; ela se revela também no momento em que instigamos a ira contra um diferente qualquer.

E o que não é intolerância?

Alguns confundem intolerância com a simples discordância. Veja que nossas preferências, escolhas, gostos, inclinações, visões, enfim, nossa individualidade, é o que nos diferencia uns dos outros. Portanto, não concordar com o que é contrário ao que cremos ou defendemos não pode ser classificado como intolerância.

O Evangelho não tolera o pecado

Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele? (Rm 6:1 NVI)

Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais. (Rm 6:19 NVI)

Pois o salário do pecado é a morte. (Rm 6:23 NVI)

Desde as suas primeiras páginas, até o derradeiro capítulo, a Bíblia é assertiva quanto à posição de Deus sobre o pecado. Se há intolerância no Evangelho, esta se resume à condenação da vida pecaminosa, que é contrária ao próprio Deus. Contrapor a isso é o mesmo que não aceitar o exercício do dever de um policial que coíbe veementemente uma prática criminosa.

Tolerar é amar

Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas. (Mt 7:12 NVI)

Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? Respondeu Jesus: Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo. (Mt 22:36,37,39 NVI)

É notória a confusão que existe no que se refere, não necessariamente ao sentido do termo “tolerar”, mas à sua abrangência. Como sinônimo de aceitar, consentir, observe a frase:

“Os pais não toleravam a rebeldia do filho”

Note que a tolerância aí diz respeito não ao filho, mas às suas atitudes. Quando discordamos de uma pessoa, seja ela quem for, isso não significa necessariamente que estamos desprezando ou desrespeitando essa pessoa, apenas que estamos exercendo o mesmo direito dela.

Entrementes, nosso direito de discordar não pode ser confundido com a prerrogativa de destratar ou humilhar os outros.

Ademais, como a igreja vai manifestar o amor, se desprezar os pecadores?

Tolerar é respeitar

Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem o rei. (1 Pe 2:17 NVI)

Dentre todos os sentidos possíveis de tolerância, há um que sobressai: respeito.

O apóstolo exorta a vivermos como pessoas livres (1 Pe 2:16). Essa liberdade não inclui tratar os outros como nos parecer melhor, mas “com o devido respeito”. Muitas das atrocidades que testemunhamos no presente século são fruto de uma mentalidade de desrespeito. Tornou-se lugar-comum afrontar a tudo e a todos. As pessoas, não raro, confundem liberdade de expressão com direito de ofender, de ultrajar.

Conclusão

O mundo está cheio de intolerantes. A igreja não precisa fazer coro a isso. Ao contrário, ela precisa externar aquilo para o qual ela foi chamada: amor e respeito.
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·         Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária – ICM, em 13/11/2016.

domingo, 28 de maio de 2017

Servindo a Deus na crise


“Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” (Fp 4:12-13)

Defina crise.

Alguns podem dizer que crise é viver com menos do que se precisa; outros, que ela ocorre quando nada parece dar certo. Há aqueles que a definem como a eclosão generalizada de provações e/ou privações; pode ser ainda a ocorrência de desentendimentos do ponto de vista relacional (familiar, sentimental, entre amigos etc.). É provável que você também já tenha ouvido falar naquela do tipo existencial: Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Por que estou neste mundo? Sem falar nas famigeradas crises econômicas, aquelas que dizem respeito ao cenário político-conjuntural. A mais recente, a propósito, vai muito além de um debate ou conflito partidário, mas diz respeito ao descrédito até mesmo das instituições, sejam elas públicas ou não.

Crise? Que crise?

Existe uma corrente por aí que defende a tese de que a melhor forma de lidar com um problema é fazer de conta que ele não existe, ou seja, ignorá-lo. Assim, acredita-se que ele se resolverá sozinho.

Fazem parte desse grupo ainda aqueles que acreditam que o problema não tem a ver consigo, que “os outros” é que devem se preocupar com ele.

Infelizmente, ignorar o problema não fará com que ele desapareça, tampouco que seja solucionado instantaneamente.

Portanto, tomando o exemplo do salmista, reconhecer o problema é um bom começo para superá-lo:

“Pois incontáveis problemas me cercam, as minhas culpas me alcançaram e já não consigo ver. Mais numerosos são que os cabelos da minha cabeça, e o meu coração perdeu o ânimo.” (Sl 40:12)

Transformando a crise em oportunidade

O meio empresarial está cheio de cases de sucesso envolvendo a superação. São exemplos inspiradores sobre como tirar vantagem da crise, afinal, “enquanto alguns choram, outros vendem lenços”.

O clichê não significa apenas que alguém pode estar tirando proveito do sofrimento alheio, mas, sobretudo, que é possível prosperar apesar das dificuldades. E você, vai chorar ou vender lenços?

Erroneamente, alguns cristãos acreditam que a fé em Deus é a garantia para uma vida “sem sofrimentos”. Há até mesmo campanha intitulada “Pare de sofrer”. Para essa ala, quando um crente passa por situações difíceis é porque tem algo de errado. Mas veja que a perspectiva bíblica é bem diferente disso:

“Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo”. (Jo 16:33 NVI)

Confiar é melhor que questionar

Diante dos revezes comuns na vida da maioria das pessoas em geral, e dos cristãos em particular, é frequente levantar-se questionamentos. Se sou fiel a Deus por que passar por essa situação? O que eu fiz para merecer isso?

Se isso também ocorre com você, não é o primeiro. Nos tempos bíblicos, muito antes do que conhecemos como “período da graça”, um levita salmista também usou desse expediente quando compara suas “derrotas” com as “vitórias” dos homens perversos (ímpios). Ele chega a dizer que teve inveja dos arrogantes, quando viu a prosperidade deles; que eles não ficam doentes, não passam por sofrimentos. O levita é Asafe, um dos autores dos salmos (ele compôs pelo menos 12) e o salmo é o 73.

Por fim, Asafe reconhece que o melhor caminho é confiar no Deus Eterno:

A quem tenho nos céus senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti. O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força do meu coração e a minha herança para sempre. Mas, para mim, bom é estar perto de Deus; fiz do Soberano Senhor o meu refúgio; proclamarei todos os teus feitos. (Sl 73:25,26,28 NVI)

Conclusão

Não importa a tempestade que você está passando. Talvez seja até mesmo um deserto. O primeiro passo para sair dele é o reconhecimento, não ignorá-lo. Em seguida, faça da crise uma oportunidade, de crescimento, de amadurecimento. Por fim, fuja da tentação de fazer questionamentos (para si mesmo ou para Deus). Ao contrário, confie nele de todo o seu coração, crendo que o melhor ainda está por vir.

Deus abençoe!
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·         Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária – ICM, em 16/10/2016.

domingo, 26 de março de 2017

Tal pai...


"Mas nós tínhamos que celebrar a volta deste seu irmão e alegrar-nos, porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado." (Lc 15:32 NVI)

A alegoria contada por Jesus, conhecida popularmente como Parábola do Filho Pródigo (Lc 15:11-32), é daquelas estórias que, ao mesmo tempo, despertam curiosidade, surpresa e comoção. O enredo é digno até mesmo de produção cinematográfica: um pai tinha dois filhos, e o mais novo, inesperadamente, pede para que sua parte da herança fosse lhe dada, pois estava resoluto em sair de casa e viver por conta própria.

É muito provável que você já a tenha lido incontáveis vezes, ou ainda ouvido inúmeras pregações tendo como base a parábola. Seguramente, a temática apresentada em grande parte dos sermões foi aquela que tem o filho mais novo como protagonista, tal como a parábola apresenta.

Entretanto, como é sabido, a narrativa bíblica é de uma riqueza incomensurável, que nos permite uma vasta gama de ensinamentos e aplicações. Desta feita, gostaria de enfocar outro personagem: o pai.

O pai mentor
O mais novo disse ao seu pai: “Pai, quero a minha parte da herança”. Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles. (Lc 15:12)

A primeira coisa que merece destaque está relacionada à atitude do pai no momento da emancipação. Sabemos que o pai da parábola personifica o próprio Deus. Quando o filho mais novo pede ao pai para sair de casa, não percebemos nenhuma demonstração de resistência do progenitor. Para o senso-comum, os pais precisam exercer o controle sobre os filhos com certo grau de força, coerção ou até mesmo rigidez. Estranhamente, essa não é a pedagogia de Deus Pai.

O Pai celeste nos ensina que a grande missão de nós, pais, não passa por exercer controle exacerbado sobre nossos filhos, mas de conduzi-los com amor, sempre deixando claro o resultado ou consequências de suas escolhas. O amor não aprisiona. Ao contrário, ele mesmo nos provê de asas.
Essa é a função de um mentor: mostrar o caminho, as opções; incentivar as boas escolhas, sem, contudo, assumir o papel daquele que está sendo ensinado; ensinar pelo exemplo.

O pai intercessor
…correu para seu filho, e o abraçou e beijou. (Lc 15:20)

Saindo da literalidade, para o leitor bíblico é importante perceber o que está nas entrelinhas. Apesar de que o texto, entre o momento em que o filho mais novo sai de casa e o momento em que resolve retornar, não menciona o pai, considerando a reação deste ao avistar seu filho ao longe, podemos imaginar um pai diuturnamente orando e chorando, suplicando pelo seu filho.

O pai intercessor é também incansável, que não desiste diante até mesmo das impossibilidades. É essa posição que o Pai celeste quer que tenhamos como pais terrenos, sabendo que a intercessão dos pais pode reverter a situação e operar verdadeiros milagres.

O pai perdoador
A seguir, levantou-se e foi para seu pai. Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou. (Lc 15:20)

É comum, após uma falha de nossos filhos, assumirmos uma posição de inquiridor, de juiz, ou ainda de um carrasco pronto para aplicar a punição ao transgressor. Com isso, o que estamos plantando? Que outro sentimento poderíamos produzir, senão indignação, revolta ou ódio?

O Pai eterno, invariavelmente, trata-nos com compaixão, com amor, mesmo após uma atitude ou escolha errada que façamos. Ele não está pronto a nos condenar ou a descarregar sobre nós toda a sua ira. Pelo contrário, ele nos perdoa, e de nosso pecado não se lembra mais (Jr 31:34).

Os pais terrenos precisam aprender a ser perdoadores como o Pai do céu, não jogando em rosto os erros e transgressões dos filhos.

O pai protetor
Mas o pai disse aos seus servos: “Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. (Lc 15:22)

Além da receptividade, a atitude de pedir que o filho desertor, agora em regresso, fosse vestido com roupas novas e calçado demonstra o caráter protetor de nosso Pai. Na narrativa bíblica, fica implícito que o filho retornava maltrapilho e, provavelmente, descalço.

Nesses tempos em que os filhos, ao alcançarem a maioridade, desejam ardentemente a emancipação, torna-se cada vez maior a necessidade de os pais terrenos assumirem seu papel protetor, provando que o melhor lugar para o filho ainda é sob a guarda dos pais.

Pais espirituais

Da mesma forma que o Pai celeste outorgou aos pais terrenos a tarefa de assumirem a missão de mentores, intercessores, perdoadores e protetores, os líderes também recebem o encargo de assim o fazerem por seus liderados e discípulos, sabendo que passam a ser corresponsáveis pela formação do caráter dos cristãos sob sua liderança.

** Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária – ICM, em 14/08/2016, e na Igreja de Cristo Renovo, em 21/08/2016.

·* Textos bíblicos extraídos da versão NVI.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

À mesa com Jesus


Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos, dizendo: “Tomem e comam; isto é o meu corpo”. Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. (Mt 26:17-29 NVI)

O episódio da Ceia do Senhor com seus discípulos é, sem dúvida, um dos mais sublimes relatos presentes no Novo Testamento. Primeiramente, por se tratar do último encontro do Mestre com os seus doze discípulos, antes de ser morto. Além disso, trata-se do momento em que o Senhor institui a ceia como uma das marcas da Sua Igreja.

Unidade com o Mestre

“Ao anoitecer, Jesus estava reclinado à mesa com os Doze.” (Mt 26:20)

O momento em que a Igreja se reúne para participar da Ceia, assim como na última ceia de Jesus com seus discípulos, é especial primeiramente porque significa que temos unidade com o Senhor.

É sabido que Jesus tinha bem mais do que doze discípulos (Lc 8:1-3; 10:1; Jo 7:52-52; 19:25; 19:38-41; At 1:14). Entretanto, todos os evangelhos nos deixam entender que apenas os Doze se faziam presentes durante a realização da Páscoa de Jesus. Veja que isso não significa que os outros (as mulheres inclusive) não tinham comunhão com o Senhor, mas foram os doze apóstolos que receberam as “chaves” do Reino, que se tornariam os continuadores do ministério do Mestre.

Comunhão entre os discípulos

“Recebendo um cálice, ele deu graças e disse: Tomem isto e partilhem uns com os outros.” (Lc 22:17)

Além de um momento de unidade com o Senhor, a ceia é uma grande oportunidade para fazer o que o próprio Jesus disse aos doze no texto acima: “partilhar uns com os outros”.

Quando participamos da ceia, estamos mostrando nossa comunhão com os outros discípulos de Jesus, independentemente da posição social, da cor da pele, do nível cultural ou da formação.

Comissionamento

“E eu designo a vocês um Reino, assim como meu Pai o designou a mim.” (Lc 22:29)

Essa frase de Jesus, no relato de Lucas, é a síntese da chamada grande comissão (Mt 28:19; Mc 16:15). Em outras palavras, o Senhor está dizendo que, assim como foi comissionado pelo Pai para anunciar o Reino, cada um de nós recebe dele mesmo esse mesmo chamamento.

Tomar a ceia é lembrar que somos chamados para uma grande obra, para anunciar a Jesus como Senhor do Reino.

Visão de futuro

“Pois eu digo que não beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus.” (Lc 22:18)

O texto acima pode aceitar duas compreensões: primeira, que aquela seria a última ceia dos discípulos com o Senhor, antes do início oficial o Reino (a Igreja); segunda, que seria a última ceia antes de chegar o Reino de Deus (o reino celestial). As duas acepções apontam para o futuro, para o amanhã.

Participar da Ceia do Senhor é viver o presente, pensando no futuro, no amanhã; é pensar na expansão do Reino, na volta de Jesus (“até que ele venha”).

Conclusão

Estar à mesa com o Senhor é, ao mesmo tempo, desfrutar de sua presença, alegrar-se com a companhia dos outros discípulos de Jesus, aceitar o chamado de Cristo para anunciar o Reino e olhar para o futuro, até que ele venha.

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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 03/07/2016, durante o culto de Ceia do Senhor.
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