domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Bênção do Perdão


"Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava:Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão." [Mt 18:21-35]
A palavra “perdão” é uma daquelas cuja definição é complexa o suficiente para produzir confusão quanto ao seu verdadeiro significado. Um exemplo disso é a controvertida discussão acerca da frase “eu perdôo, mas não esqueço”. Afinal, perdoar significa, de uma vez por todas, esquecer a afronta ou a dívida? Quando perdoamos, de fato, esquecemos de tudo? O perdão tem o poder de fazer sumir as marcas da injúria ou da ofensa que sofremos?
A definição, de acordo com nossos dicionários, é:
  • Remissão da culpa, dívida, pena ou ofensa;
  • Absolvição, indulto;
  • Benevolência, indulgência;
Quando falamos em indulgência, lembramos logo daquele conceito difundido durante o período em que a Igreja Romana exercia supremacia sobre as culturas predominantes, sobretudo na Europa, a partir do século III da era cristã. Na doutrina católica, indulgência é a eliminação total ou parcial das penas temporais do cristão devidas a Deus pelos pecados cometidos, embora já perdoados pela confissão. Seria uma forma de reparação das conseqüências dos erros cometidos. Dentre as práticas aceitas pela Igreja para obter indulgências, destacam-se: boas obras, esmolas, rezas, peregrinações, a leitura piedosa das Sagradas Escrituras, ou ainda o uso constante de objetos de piedade, como crucifixos e medalhas benzidos pelo Sumo Pontífice, bispo ou padre. O ápice se deu quando passou a acontecer a chamada venda de indulgências, em que as pessoas eram incentivadas a oferecerem dinheiro em troca do benefício, bem demonstrada na frase da época: “assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do purgatório”[1].

O PERDÃO NAs ESCRITURAS
Na maioria das vezes em que a palavra perdão e suas derivadas são citadas nas Sagradas Escrituras, as palavras usadas no texto original são:
  • Hebraico (AT) – “Salach”, perdoar (Sl 103:3; Dn 9:19; Am 7:2); “Sallach”, perdão (Sl 86:5); “Kaphar”, cobrir (Sl 78:38; Jr 18:23; Dn 9:24); “Nasa”, levantar, perdoar (Sl 25:18; Is 2:9).
  • Grego (NT) – “Aphíemi”, deixar ir, perdoar, ceder, largar (Mt 3:15; Ap 11:9); “Áphesis”, liberdade, misericórdia, remissão (Mt 26:28; Hb 9:22); “Charizomai”, ser gracioso com (Rm 8:32; Fp 2:9); “Apoluo”, soltar, perdoar (Lc 6:37).
Notemos, portanto, que, na maioria das vezes, o significado de perdão/perdoar é “libertar”, “liberar”, “deixar ir”. É comum ouvirmos a expressão “liberar perdão”, mas o correto mesmo seria “praticar o perdão” ou “usar o perdão”.

LIÇÕES SOBRE O PERDÃO
A Palavra de Deus nos fala em bênçãos materiais e espirituais. O perdão é uma das maiores bênçãos espirituais de Deus aos homens. Muito mais do que uma possibilidade, é um mandamento, além de uma condição para recebê-lo do próprio Deus.
A conhecida parábola do credor incompassivo (Mt 18:21-35) traz-nos algumas lições sobre o perdão:

1. Deus faz contas com os homens não somente depois da morte (v. 23). Diferentemente do que a maioria pensa, periodicamente, o Senhor faz contas com os homens, na medida em que todos são devedores.

2. Todos os homens têm uma dívida incalculável (vv. 24,25). O talento era uma medida de peso que variava entre 26 e 36 quilos, usada para pesar metais preciosos. Se o talento usado por Jesus se referia ao ouro, então temos uma dívida equivalente a 360 toneladas de ouro. Consideremos que o preço do ouro na BM&F está sendo cotado a R$ 77,00 o grama. Agora, multiplique e teremos uma dívida bilionária.

3. A dívida precisa ser paga (v. 25). Como era de se esperar, o homem não dispunha daquele estratosférico valor. Com isso, o credor decidiu lançar mão de tudo o que o homem possuía.

4. Deus sabe que não podemos pagar tal dívida, por isso providencia um resgatador (v. 27). Após o apelo do homem devedor, o credor se compadeceu dele e, sabendo que se tratava de um valor impagável, resolveu perdoá-lo (deixou ir, liberou). No nosso caso, o Senhor providenciou Jesus Cristo para ser nosso resgatador.

5. Deus espera que tenhamos com os outros a mesma atitude que teve conosco (v. 33). Observe que a dívida do terceiro homem era infinitamente menor (equivalente a 100 dias de trabalho). Apesar disso, o seu credor (que fora devedor do rei) não lho perdoou. Da mesma forma temos agido. A dívida que tínhamos com Deus não podia ser paga, ao passo que qualquer dívida que alguém tenha para conosco é insignificante. Mesmo assim, não temos tido a capacidade de “liberar” as pessoas através da bênção que o Senhor nos tem abençoado.

CONCLUSÃO
Deus espera que tenhamos para com os homens o mesmo sentimento que ele teve para conosco, a mesma disposição em perdoar, o mesmo coração libertador (Pv 19:11). Libere, solte, deixe ir aquele que está preso por uma ofensa, dívida ou injúria, na mesma proporção que o Senhor o tem liberado. Do contrário, ele terá a mesma atitude (Mt 6:14-15).
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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária, em 20/02/2011.
Referências:
[1] História. Volume Único. Gislane Campos Azevedo e Reinaldo Seriacopi. Editora Ática. 2007. ISBN 978-850811075-9. Pág.: 143, citado por Wikipédia.
Bíblia On Line Net. Disponível em: http://www.bibliaonline.net
Perdoando-vos uns aos outros In: Blog Fundamentos na Bíblia. Disponível em: http://rhonaldy.blogspot.com/2011/02/perdoando-vos-uns-aos-outros_8758.html
Dicionário Bíblico Hebraico e Grego. Disponível em: http://www.dosenhor.com
Dicionário Online de palavras. Disponível em: http://www.verbetes.com.br/
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt
WIKIPÉDIA. A enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/
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