quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Presente de Natal



Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura. De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor”. (Lc 2:11-14)

Não é novidade que o Natal é uma data mundialmente comemorada, sendo, para a maioria absoluta dos cristãos (e até não-cristãos), a principal festa no calendário anual. Por conta da época, algumas expressões se tornaram lugar-comum, como: espírito do Natal, magia do Natal etc.

Outra faceta dessa festa é o aspecto comercial. De acordo com as associações de lojistas, o Natal continua sendo a época que mais movimenta o comércio e, por conseguinte, que mais ganhos proporciona. Afinal, quem não gosta de passar o Natal com roupa nova? Isso, sem falar nos presentes, que são responsáveis por uma parcela considerável das compras de fim de ano e, portanto, do endividamento das pessoas.

É comum nessa época ouvirmos questionamentos acerca da (des)sacralização da festa. Em outras palavras: se o Natal é ou não uma festa verdadeiramente cristã. Afinal, até que ponto é espiritualmente salutar comemorar essa data? Celebrar o Natal fere a minha fé?

O Natal e o paganismo

Muito se tem falado no meio evangélico acerca da origem pagã do Natal, sobretudo a ala, digamos, mais puritana. Primeiramente, há que se considerar que há mais de uma versão da suposta origem da festa no paganismo.

A primeira delas, e a mais propalada, é aquela que diz ser o Natal uma nova roupagem da festa celebrada pelos persas, em homenagem ao seu deus Mithra, o Sol Invicto (Natalis Solis Invictis, ou Nascimento do Sol Invicto), no dia 25 de dezembro, uma festa marcada por orgias e embriaguez.

Outra conhecida versão associa o Natal à antiga festa romana chamada Brumália, que acontecia exatamente no dia 25 de dezembro, logo após a Saturnália (festividade em honra do deus romano Saturno, que se estendia do dia 17 a 24 de dezembro). É sabido que a Brumália era mais uma homenagem ao deus Baco; portanto, não poderia faltar a libertinagem, regada a muito vinho (Baco era o deus do vinho para os romanos).

Há ainda outra versão, e a mais esdrúxula de todas: aquela que defende a origem do Natal no personagem bíblico Nimrode (cujo significado é “rebelar”), que teria nascido em 25 de dezembro. Ninrode era filho de Cuxe, filho de Cam, filho de Noé. De acordo com o relato do livro de Gênesis, Ninrode foi um homem poderoso na terra (Gn 10:8-9); foi ainda o fundador da cidade de Nínive (Gn 10:11) e o provável responsável pela construção da torre de Babel (Gn 11:1-9). O motivo de associar Ninrode ao Natal deve-se ao fato de Babel ser considerada a gênese do império babilônico (Babel foi a primeira capital da Babilônia).

Especulações à parte, é sabido que o Natal foi incorporado ao calendário religioso, pelo imperador Constantino, no ano 354 d.C. Vale lembrar que Constantino foi o imperador responsável pela junção da Igreja ao Estado romano, tornando o Cristianismo a religião oficial do império, após sua suposta conversão à fé dos apóstolos de Jesus, no ano 312 d.C. Essa data é identificada pelos cristãos evangélicos como o início da Igreja Católica Romana, haja vista que o próprio imperador tornou-se, oficial e historicamente, o primeiro sumo-pontífice. Pelo que se sabe, Constantino não abandonou suas práticas pagãs, conservando, até o final de seus dias, a adoração às suas divindades romanas e gregas, ao mesmo tempo em que declarava sua nova fé cristã. Na realidade, a partir daí o que Constantino fez foi dar início a uma prática que se tornou uma constante na Igreja Romana: a mistura de elementos, símbolos e práticas pagãos aos costumes e padrões cristãos, dando origem a uma nova religião, largamente identificada pelos teólogos modernos como romanismo, mais conhecido como catolicismo, ou ainda catolicismo romano.

Fontes históricas informam que o imperador romano era adorador do deus-Sol (o Sol Invicto), o que o teria levado a dar um novo significado ao dia 25 de dezembro, que passou a ser uma data cristã, o dia do Natal do Filho de Deus (e não mais Natal do Sol Invicto).

O dia 25 de dezembro

"Ora, havia naquela mesma região pastores que estavam no campo, e guardavam os seus rebanhos, durante as vigílias da noite." (Lc 2:8)

Alguns argumentam ser errado comemorar o Natal no dia 25 de dezembro pelo simples fato de, originalmente, essa data ser dedicada ao Sol Invicto.

A bem da verdade, embora não seja possível precisar a data correta do nascimento do Salvador, podemos asseverar que esse dia não foi 25 de dezembro. Na Judéia, no mês de dezembro é inverno, marcado por frio e muita chuva, o que leva os pastores a recolherem o rebanho dos campos desde o mês de outubro.
Outro argumento diz respeito ao recenseamento decretado pelo imperador Cesar Augusto, que jamais aconteceria no período invernal (Lc 2:1).

O período mais provável para o texto de Lucas é o outono, que equivale ao nosso mês de setembro, cerca de seis meses após a Páscoa. Vale lembrar que, nesse período, acontece a Festa dos Tabernáculos, cujo significado é, literalmente, que Deus veio “tabernacular” (morar) conosco.

Os Símbolos Natalinos

Outra controvérsia gira em torno dos símbolos natalinos e suas origens.

A árvore de Natal, por exemplo, está associada ao antigo costume pagão de adorar árvores, uma vez que, normalmente, cada divindade era associada a uma árvore. Outra versão diz que a árvore tem origem em Ninrode (o mesmo da Torre de Babel), que após sua morte passou a ser adorado através da imagem de um pinheiro. Entretanto, o próprio Martinho Lutero, que protagonizou a Reforma Protestante, no século XVI, teria incluído a árvore como um enfeite natalino, destituída de qualquer intenção de culto.

O bom velhinho, popularmente conhecido como Papai Noel, tem sua origem em São Nicolau, um bispo romano do século V, que teria se notabilizado por distribuir presentes entre os pobres e crianças carentes. Conforme a tradição católica, Nicolau, que se tornou santo, passou a ser venerado no dia 6 de dezembro, data alterada para o dia 25 em função do Natal. Tradicionalmente, o velhinho também dado origem ao costume de dar e receber presentes nessa época.

O presépio, representação do momento em que o menino Jesus encontra-se em uma manjedoura, ao lado de Maria e José, juntamente com os pastores (ou com os magos do oriente), de acordo com a tradição católica, teve início no ano 1223, na Itália, quando o frade católico Giovanni di Pietro di Bernardone (popularmente conhecido como São Francisco de Assis) decidiu montar um cenário com os personagens do presépio, durante a missa de Natal. Apesar da tradição, muitos cristãos associam o presépio com a idolatria, desaconselhando seu uso como decoração de Natal.

Guirlandas e luzes são igualmente associadas a costumes pagãos. As guirlandas teriam origem no antigo costume de se adornar edifícios com coroas feitas de ramos verdes, nas festividades pagãs. As luzes seriam usadas para reanimar o deus-Sol, ao final do dia.

Natal sem Jesus

Veja que a tradição não deve substituir a essência. Para que o Natal seja, verdadeiramente, uma festa cristã é imprescindível que haja o Cristo! Não é concebível comemorar o aniversário de Jesus sem o próprio Jesus.

O Natal de Jesus não deve ser uma tradição vazia, regada a bebedices e glutonarias, aproximando-o dessa forma às antigas festividades pagãs. Precisa, sim, ser uma oportunidade de proclamar entre os familiares e amigos que o Filho de Deus se fez carne e tornou-se o Emanuel, Deus Conosco:

“E o Verbo se fez carne, e habitou (tabernaculou) entre nós, e vimos a sua glória como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (Jo 1:14)

* Esta mensagem foi pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 21/12/2014.
REFERÊNCIAS:

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A Teologia da Cruz

"e quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim." (Mt 10:38 NVI)
A despeito de muitas religiões, movimentos, organizações e até mesmo nações utilizarem a figura da cruz (a exemplo da antiga cruz ansata, a mística cruz de Caravaca ou Lorena, a proibida cruz suástica nazista etc.), ela ainda é um dos principais símbolos do Cristianismo.
Como símbolo do Cristianismo, é sabido que a cruz passou a ser usada a partir do segundo século da Era Cristã, uma vez que, no primeiro século, o símbolo usado pelos cristãos era o peixe (ou “ichthys”), sendo a cruz raramente usada, por representar um doloroso método de execução pública.
Sendo um dos símbolos do povo cristão, qual a mensagem que a cruz nos traz?
A cruz como símbolo de renúncia
A cruz é largamente usada como uma espécie de amuleto por devotos mundo afora, ou ainda por jovens, tatuadas em seus corpos ou gravadas em suas roupas, passando-nos uma mensagem de revolta ou grito de liberdade.
Mas para o cristão verdadeiro, a primeira representação da cruz é aquela que diz respeito a renúncia, a abrir mão de seus próprios interesses e vontades, e por isso mesmo é o instrumento pelo qual o Senhor mede a nossa “capacidade” de segui-lo:
“…e quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.” (Mt 10:38 – NVI)
Quanto a isso, o evangelista Lucas é mais específico:
“Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me.” (Lc 9:23)
“E aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo.” (Lc 14:27 – NVI)
A cruz como símbolo do poder de Deus
Há ainda aqueles que têm na cruz um mero emblema heráldico, usando-a como distintivo familiar ou nacional.
Para os cristãos ela é símbolo do poder de Deus, na medida em que ela fala do sobrenatural poder de Deus para resgatar pessoas que estavam destinadas à perdição eterna:
“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.” (1 Co 1:18)
A cruz como símbolo de reconciliação
Enquanto alguns fazem uso na cruz como símbolo místico, os cristãos a têm como uma simbologia para a reconciliação entre os homens e do homem com Deus:
“Pois ele [Cristo] é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade, anulando em seu corpo a Lei dos mandamentos expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar em si mesmo, dos dois, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliar com Deus os dois em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele destruiu a inimizade.” (Ef 2:14-16 – NVI)
A cruz como símbolo de obediência
Apesar de a cruz suástica estar proibida em alguns países, como na própria Alemanha (o Código Penal tornou criminosa a exibição de suástica e outros símbolos nazistas) e no Brasil (a Lei 9.459/97, art. 20, §1º, proíbe a fabricação, comercialização, distribuição e veiculação da cruz suástica, com pena de dois a cinco anos e multa), muitos ainda a empunham como símbolo de protesto e revolta, em diversas localidades.
Os cristãos, porém, a veem como a marca da obediência, demonstrada por Jesus:
“E [Jesus], sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fp 2:8 – NVI)
A cruz como símbolo da vitória
Para muitos, a cruz ainda é apenas um símbolo de sofrimento e dor. Para os cristãos, é muito mais do que isso. Ela é a prova de que, em Jesus, temos a vitória sobre todo principado e potestade espiritual:
“…e [Jesus], despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.” (Cl 2:15)
Conclusão
A cruz foi e continua sendo uma das principais marcas do cristão autêntico. Ela nos fala sobre renúncia, sobre o poder de Deus, sobre reconciliação, sobre obediência e, por fim, sobre a nossa vitória contra todo mal. Porém, a cruz só tem valor quando consideramos aquele que é o autor e consumador da nossa fé. (Hb 12:1-2)

Referências:
* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 06/04/2014.
* Todas as referências bíblicas citadas foram retiradas da Bíblia On-Line (www.blibliaonline.net), versão em Português por João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada (ARA), excetuando-se aquelas cuja tradução for citada, como a Nova Versão Internacional (NVI) ou Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH).

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O Trabalho é de Deus!


"Mas, sejam fortes e não desanimem, pois o trabalho de vocês será recompensado." (2 Cr 15:7)
Após a Queda de Adão e Eva, no Jardim do Éden, em decorrência da desobediência do primeiro casal, o Senhor declarou as consequências do pecado deles. Uma delas, sobre Adão, dizia respeito ao trabalho: “Em fadigas obterás dela (da terra) o sustento durante os dias de tua vida” (Gn 3:17) e “No suor do rosto comerás o teu pão” (Gn 3:10).
Por causa dessas palavras de Deus sobre Adão, muitos passaram a ver o trabalho como algo maldito. E ainda hoje, várias pessoas e instituições defendem que o trabalho é sinônimo de sofrimento, de dor e pesar.
Etimologicamente, a palavra trabalho vem do termo latim tripalium1. Literalmente, tripalium (três paus) era um instrumento de tortura romano, que surgiu na época da Inquisição, formado por três estacas entrecruzadas, usado para produzir suplício, que também passou a ser usado nos escravos.2
A partir dessa definição, podemos entender o porquê da associação do trabalho com o sofrimento.
Indo na contramão dessa vertente, entendemos, com base nos textos bíblicos, que o trabalho é uma bênção de Deus, podendo perfeitamente também ser visto como uma atividade prazerosa e de realização pessoal e profissional:
“Descobri também que poder comer, beber e ser recompensado pelo seu trabalho é um presente de Deus. (…) Por isso concluí que não há nada melhor para o homem do que desfrutar do seu trabalho, porque esta é a sua recompensa. Pois, quem poderá fazê-lo ver o que acontecerá depois de morto?” (Ec 3:13,22 – NVI)
Ademais, o trabalho pode e deve ser usado como um meio para a realização de sonhos:
“Do fruto de sua boca o homem se beneficia, e o trabalho de suas mãos será recompensado.” (Pv 12:14 – NVI)
“O que planta e o que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho.” (1 Co 3:8 – NVI)
Conclusão
Todo o esforço em prol de um propósito bem definido é louvável. O tempo despendido (ou investido) em uma determinada tarefa, ainda que seja árdua, no final, será recompensado. Seja essa atividade laboral, ministerial, pessoal ou com fins profissionais (um curso, por exemplo), o produto final pode e deve justificar o sacrifício. Entretanto, para se obter o sucesso na empreitada, é extremamente necessário entregar-se completamente:

“Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.” (Ec 9:10 – ARA)
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* Palestra apresentada durante o culto em ação de graças, na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 23/03/2014.
1 TRIPALIUM: O trabalho como maldição, como crime e como punição, Eduardo A. Bonzatto. Disponível em:

terça-feira, 30 de setembro de 2014

O poder da palavra

Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar. (Ec 3:1,7 - NVI)

Você já parou para pensar no poder que têm as palavras? Uma palavra dita a seu tempo pode produzir efeitos impressionantes e transformadores na vida de quem a recebe. Por outro lado, quando não oportuna, a palavra pode desencadear até mesmo a ruína de uma pessoa, ou ainda marcar para sempre aquela pessoa, produzindo dores para o resto de sua vida.
Você acredita que uma palavra pode mudar a vida de uma pessoa? Você já recebeu uma palavra de alguém (boa ou má) que o fez mudar de atitude? O que é pior: ouvir uma palavra doce, mas enganosa, ou receber uma palavra dura, mas verdadeira?
O poder da palavra: bênção ou maldição
As palavras podem ser um divisor de águas na vida de uma pessoa. Na época dos patriarcas, a bênção paterna exercia um poder impressionante sobre a vida dos filhos. Tomemos o exemplo de Jacó, que, orientado pela mãe, montou um estratagema para conquistar as palavras de bênção que eram destinadas a Esaú (Gn 27:1-35). A bênção proferida por Isaque sobre Jacó foi assim:
“Que Deus lhe conceda do céu o orvalho e da terra a riqueza, com muito cereal e muito vinho. Que as nações o sirvam e os povos se curvem diante de você. Seja senhor dos seus irmãos, e curvem-se diante de você os filhos de sua mãe. Malditos sejam os que o amaldiçoarem e benditos sejam os que o abençoarem.” (Gn 27:28-29 – NVI)
Eles levavam tão a sério esse negócio de bênção, que após perceber a besteira que havia feito (Gn 25:29-34), Esaú tentou a todo custo conseguir ao menos uma palavra de bênção de seu pai Isaque (Gn 27:34-40).
Outro episódio na vida de Jacó que podemos citar diz respeito ao momento em que este fugia de seu tio Labão. Ao atravessar o rio Jaboque, à noite, se viu lutando com um homem. No momento em que percebeu se tratar de um mensageiro de Deus, Jacó o segurou e declarou que só o largaria depois que o homem (anjo) o abençoasse (Gn 32:22-30).
Há ainda o caso memorável do profeta Balaão, que foi contratado pelo rei moabita Balaque para que proferisse palavras de maldição contra seu inimigo Israel. Como sabia que Israel era um povo abençoado por Deus, Balaque entendia que somente um homem de Deus poderia desferir palavras amaldiçoadoras sobre o povo (Nm 22:1 – 24:1-9)
“Balaque, filho de Zipor, rei de Moabe naquela época, enviou mensageiros para chamar Balaão, filho de Beor, que estava em Petor, perto do Eufrates, em sua terra natal. A mensagem de Balaque dizia: ‘Um povo que saiu do Egito cobre a face da terra e se estabeleceu perto de mim. Venha agora lançar uma maldição contra ele, pois é forte demais para mim. Talvez então eu tenha condições de derrotá-lo e de expulsá-lo da terra. Pois sei que aquele que você abençoa é abençoado, e aquele que você amaldiçoa é amaldiçoado’.” (Nm 22:4-6 – NVI)
Na primeira tentativa de maldição a Israel, sobre o primeiro monte, veja o que saiu da boca de Balaão:
“Então Balaão pronunciou este oráculo: Balaque trouxe-me de Arã, o rei de Moabe buscou-me nas montanhas do orien­te. ‘Venha, amaldiçoe a Jacó para mim’, disse ele, ‘venha, pronuncie ameaças contra Israel!’ Como posso amaldiçoara quem Deus não amaldiçoou? Como posso pronunciar ameaças contra quem o Senhor não quis ameaçar? Dos cumes rochosos eu os vejo, dos montes eu os avisto. Vejo um povo que vive separado e não se considera como qualquer nação. Quem pode contar o pó de Jacó ou o número da quarta parte de Israel? Morra eu a morte dos justos, e seja o meu fim como o deles!” (Nm 23:7-10 – NVI)
Como não deu certo, Balaque levou Balaão a outro monte, mas novamente o que saiu foi bênção:
“Então ele pronunciou este oráculo: Levante-se, Balaque, e ouça-me; escute-me, filho de Zipor. Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir? Recebi uma ordem para abençoar; ele abençoou, e não o posso mudar. Nenhuma desgraça se vê em Jacó, nenhum sofrimento em Israel. O Senhor, o seu Deus, está com eles; o brado de aclamação do Rei está no meio deles. Deus os está trazendo do Egito; eles têm a força do boi selvagem. Não há magia que possa contra Jacó, nem encantamento contra Israel. Agora se dirá de Jacó e de Israel: ‘Vejam o que Deus tem feito!’ O povo se levanta como leoa; levanta-se como o leão, que não se deita até que devore a sua presa e beba o sangue das suas vítimas.” (Nm 23:18-24 – NVI)
Novamente, Balaque levou Balaão ao terceiro monte, e ele disse por fim:
“…e ele pronunciou este oráculo: Palavra de Balaão, filho de Beor, palavra daquele cujos olhos vêem claramente, palavra daquele que ouve as palavras de Deus, daquele que vê a visão que vem do Todo-poderoso, daquele que cai prostrado e vê com clareza: Quão belas são as suas tendas, ó Jacó, as suas habitações, ó Israel! Como vales estendem-se, como jardins que margeiam rios, como aloés plantados pelo Senhor, como cedros junto às águas. Seus reservatórios de água transbordarão; suas lavouras serão bem irrigadas. O seu rei será maior do que Agague; o seu reino será exaltado. Deus os está trazendo do Egito; eles têm a força do boi selvagem. Devoram nações inimigas e despedaçam seus ossos; com suas flechas os atravessam. Como o leão e a leoa eles se abaixam e se deitam, quem ousará despertá-los? Sejam abençoados os que os abençoarem, e amaldiçoados os que os amaldiçoarem!” (Nm 24:3-9 – NVI)
Ainda em nossos dias, pais e mães continuam a proferir palavras maléficas sobre seus filhos. Quando aborrecidos por alguma circunstância, ou ainda quando a situação não é favorável, destilam maldições e infortúnios contra os próprios filhos, na maioria das vezes sem se aperceber do efeito que aquelas palavras produzirão.
Palavra na Palavra
Vejamos o que diz o livro dos Provérbios sobre a palavra:
“A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra” (Pv 12:25). Quando estamos aflitos e acometidos de solicitude, as palavras dos amigos podem servir de alento para a nossa alma.
“O homem se alegra em dar resposta adequada, e a palavra, a seu tempo, quão boa é!” (Pv 15:23). Uma palavra dada no tempo oportuno pode fazer toda a diferença.
“Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo” (Pv 16:24). As palavras certas são tão importantes para a alma daquele que as ouve quanto o remédio, para o corpo do doente.
“Como beijo nos lábios, é a resposta com palavras retas” (Pv 24:26). Como um beijo apaixonado na pessoa que amamos: assim é a resposta que damos quando selecionamos sabiamente as palavras antes de falar.
“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15:1). Quantas vezes evitamos uma discussão por usar as palavras certas? Quantos problemas e ressentimentos poderiam ser evitados se soubéssemos como falar?
Conclusão
As palavras podem ser proferidas com a melhor das intenções, mas, antes de liberá-las, precisamos considerar a pessoa que vai receber. A mesma palavra pode produzir efeitos edificantes ou destrutivos, dependendo do momento ou da condição em que a pessoa se encontre. Lembre-se: tem horas, que o melhor mesmo é ficar calado: “Quem retém as palavras possui o conhecimento, e o sereno de espírito é homem de inteligência.” (Pv 17:27)

* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 16/03/2014.
* Todas as referências bíblicas citadas foram retiradas da Bíblia On-Line (www.blibliaonline.net), versão em Português por João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada (ARA), excetuando-se aquelas cuja tradução for citada, como a Nova Versão Internacional (NVI) ou Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH).

sábado, 30 de agosto de 2014

O valor da amizade


"Depois dessa conversa de Davi com Saul, surgiu tão grande amizade entre Jônatas e Davi que Jônatas tornou-se o seu melhor amigo. Daquele dia em diante, Saul manteve Davi consigo e não o deixou voltar à casa de seu pai. E Jônatas fez um acordo de amizade com Davi, pois se tornara o seu melhor amigo. Jônatas tirou o manto que estava vestindo e o deu a Davi, com sua túnica, e até sua espada, seu arco e seu cinturão." [1 Sm 18:1-4 - NVI]

14 de fevereiro é conhecido como o “dia da amizade”. Você pode argumentar que a data é mais um daqueles estratagemas comerciais para convencer as pessoas a adquirir produtos e serviços. Em outras palavras, a boa e velha “jogada de marketing”. É até provável que, em sua origem, a criação desse dia tenha considerado, primariamente, objetivos comerciais. Entretanto, não se pode perder de vista a importância da amizade.

Que tipo de amigo temos sido nestes dias? Será que nossas amizades passam pelo teste da lealdade? Estamos dispostos a enfrentar as intempéries da vida em nome da amizade?

Mais chegado que um irmão

“Há amigo mais chegado que um irmão” (Pv 18:24). O provérbio é conhecido, a verdade contida nele também. Não se podem negar os laços familiares. Todavia, há que se considerar que algumas amizades conseguem a proeza de superar a cumplicidade e a proximidade, que são características tão próprias da família.
Estranhamente, muitas relações antes amigáveis têm-se revelado frágeis diante das adversidades. Temos visto muitas amizades, que eram vistas como baluartes da solidez, cedendo lugar a desconfianças e suspeitas. Ao que parece, os antigos “amigos chegados” estão descobrindo (maximizando?) os defeitos dos outros, ou ainda comparando-os com os próprios, e, em consequência disso, a cumplicidade já não pode ser notada, muito menos a proximidade.

Apesar de concordar que, em muitos casos, a hipótese anterior seja verdadeira, o Livro dos Provérbios apresenta pelo menos duas razões por que amigos podem deixar de ser “mais chegados do que um irmão”:

“O homem perverso espalha contendas, e o difamador separa os maiores amigos” (Pv 16:28). Amizades leais morrem quando os amigos começam a dar vasão a “homens perversos”, ou então quando se aproximam de “difamadores”.

“O que encobre a transgressão adquire amor, mas o que traz o assunto à baila separa os maiores amigos” (Pv 17:9). Uma das melhores qualidades das verdadeiras amizades é a capacidade de guardar confidências. Amigos verdadeiros, portanto, são aqueles que conseguem guardar segredo. Leia também: Pv 11:13; 20:19; 25:9.

Amigo de todas as horas

“Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (Pv 17:17). O conceito de amigo tornou-se banalizado em nossos dias. Chamamos de amigo para qualquer conhecido, até mesmo um estranho tratamos como “amigo”. Obviamente, muitas vezes estamos apenas praticando o que chamamos de “política da boa vizinhança”. Mas, a questão é como tratamos como desimportante a figura do amigo. O texto bíblico fala da necessidade de praticarmos a amizade “em todo tempo”. Porém, o que vemos é que nossas amizades estão limitadas por relações circunstanciais. Em outras palavras, a amizade permanece enquanto a situação for favorável, enquanto o outro está bem. Nesse sentido, parafraseando a parábola de Jesus, tais amizades são como a casa construída sobre a areia que, quando vem o tempo mau, não resiste, tornando-se grande a sua ruína (cf. Mt 7:26-27).

“Não abandones o teu amigo” (Pv 27:10). Os amigos verdadeiros são atemporais, não-circunstanciais, invariáveis e, portanto, não dependem da ocasião para expressar seu amor pelo outro.

Amizade e lealdade

Um dos melhores exemplos encontrados no relato bíblico sobre amizade e lealdade é aquele narrado sobre Davi e Jônatas. Ao considerarmos o pano de fundo da história, vamos concordar que a amizade deles tinha tudo para dar errado: Davi era o mais novo dos oito filhos de Jessé, aquele que foi escolhido por Deus e ungido por Samuel para ser o novo rei de Israel (1 Sm 16:11-13), em substituição a Saul, que fora rejeitado por Deus (1 Sm 16:1). Jônatas era um dos filhos do rei Saul e tornou-se o melhor amigo de Davi (1 Sm 18:1-5). O rei Saul, a despeito de ter colocado Davi como chefe de tropas de seu exército, começou a enciumar deste, sobretudo porque sua estima em Israel se elevara e sobrepujara a do próprio rei (1 Sm 18:6-9). A partir daí, Saul passou a alimentar o desejo de acabar com a vida de Davi (1 Sm 18:10-15; 19:1; 19:9-11).

Esse é o cenário da amizade entre Davi e Jônatas, servindo de referencial para todas as relações amigáveis de nossos dias. A fidelidade e lealdade de ambos venceu toda e qualquer contrariedade, inclusive, e principalmente, a relacionada às suas famílias. Jônatas poderia ter todos os motivos para aderir ao sentimento que seu pai desenvolveu dentro de si por Davi. Ao contrário, quando teve oportunidade, Jônatas intercedeu por seu amigo (1 Sm 19:1-7), chegando até mesmo a enganar seu pai em favor daquele (1 Sm 20:18-34).

Na sequência desse último episódio, antes de Davi fugir para não ser morto pelo rei, ocorre a despedida dos dois amigos. Após Davi prostrar-se com o rosto em terra por três vezes, os amigos cumprimentaram-se com um amoroso ósculo e choraram juntos. E, por fim, Jônatas diz a Davi: “Vá em paz, pois temos jurado um ao outro, em nome do Senhor, quando dissemos: ‘o Senhor para sempre é testemunha entre nós e entre os nossos descendentes’” (1 Sm 20:42 – NVI).

Conclusão

Tomara o Senhor nos abençoe com a mesma bênção que receberam Davi e Jônatas, fazendo com que nossas amizades estejam blindadas das intempéries tão frequentes em nossos dias. Que haja em nós o mesmo sentimento de lealdade e cumplicidade, que marcaram a amizade entre Davi e Jônatas.
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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 16/02/2014.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

O Deus de Sonhos


Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro. [Jr 29:11 NVI]

Um pastor conhecido publicou um livro intitulado “Sonha e ganharás o mundo”1. Por sua vez, os críticos completaram: “… mas perderás a tua alma”2, parafraseando o texto de Mt 16:26. Testemunhos e opiniões à parte, não podemos asseverar que o simples sonhar com algo seja suficiente para conquistar o que almejamos. Outro ponto diz respeito ao sentido empregado para a expressão “ganhar o mundo” pelo autor do livro. Ao que parece, ele se refere a “ganhar vidas, almas para o Reino de Deus”, e nesse particular, do ponto de vista apologético, não há problema algum, nada obstante a hipérbole contida na frase. E, como é sabido, “ganhar o mundo” na parábola contada por Jesus denota o acúmulo desenfreado de riquezas terrenas e a avareza.

Em seu memorável discurso conhecido popularmente como “Eu tenho um sonho” (“I have a dream”, no original), o ativista e pastor americano Martin Luther King, em 28 de agosto de 1963, nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington D.C., falou da necessidade de união e coexistência harmoniosa entre brancos e negros no futuro. No discurso, ele declara: “Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.”

Mas, afinal, o que são sonhos? Obviamente, não podemos confundir com aquele “conjunto de ideias e de imagens que se apresentam ao espírito durante o sono”3. Os sonhos objetos dessa reflexão são ideias fixas, expectativas, propósitos, anelos, desejos veementes, aspirações.4

Sonho ou Fantasia?

Não se pode esquecer que os mesmos dicionários que apresentam os dois significados acima também definem sonhos como: fantasia, devaneio, ilusão. E a linha que divide nossos sonhos de meros devaneios é muito tênue.

Nossos desejos, ainda que pareçam difíceis, podem ser factíveis. Mas, no momento em que perdemos a visão, passam a ser apenas quimeras. Muitos sonhos deixam de ser possíveis, a partir do momento em que deixamos de acreditar neles. Portanto, a diferença entre o sonho e a fantasia é a fé (Hb 11:1).

Sonhar é preciso

Tem muita gente desistindo dos seus sonhos, ou porque deixou de acreditar (“Os meus dias passaram, e se malograram os meus propósitos, as aspirações do meu coração.” Jó 17:11), ou porque se deixou levar pelos que chamo “assassinos de sonhos”. A importância dos sonhos reside no fato de que eles servem de combustível para a vida, para continuar a jornada.

Davi teve um sonho lindo: ele queria construir um templo digno da grandeza e soberania do Deus Todo-Poderoso (2 Sm 7:1-17; 1 Rs 8:17; 1 Cr 28:2). Apesar de que esse sonho só foi concretizado por seu filho e sucessor, o Senhor disse-lhe: “Você fez bem em ter no coração o plano de construir um templo em honra ao meu nome” (1 Rs 8:18 – NVI).

O Senhor se compraz nos sonhos, pois diz em sua Palavra: “Tu, Senhor, guardarás em perfeita paz aquele cujo propósito está firme, porque em ti confia” (Is 26:3 – NVI). Por “propósito firme” entenda que o texto se refere aos desejos, intentos do coração, sonhos.

Sonhar é preciso. Sonhar é viver. Pare de sonhar, e, gradativamente, a vida deixará de ter sentido. Você talvez não veja o seu sonho ser realizado, mas seus descendentes o verão.

Sonhar e compartilhar?

Se você sonha, muito provavelmente já se deparou com algum “assassino de sonhos”. Eles são, normalmente, identificados como amigos, colegas de trabalho, parentes, e muitas vezes são até irmãos na fé. Num primeiro momento, quando ficam conhecedores do seu sonho, eles podem demonstrar partilharem do mesmo propósito. Mas, logo revelam a verdadeira face.


Foi o que aconteceu com Zorobabel, Jesua e os chefes das famílias de Judá e Benjamin, no período em que o rei persa Ciro decretou que os Judeus exilados poderiam voltar à sua terra para reconstruírem o templo do Senhor (Ed 4:1-24). No momento em que esses homens estavam reconstruindo o templo, os inimigos de Judá se incomodaram e foram oferecer (pseudo)ajuda. Como a ajuda não foi aceita, os tais opositores fizeram tudo o que estava ao alcance deles para impedir a construção, o que de fato aconteceu, durante o reinado de Artaxerxes, ficando a obra parada até o segundo ano do reinado de Dario (Ed 4:24).

Se você já passou por isso alguma vez, saiba que não é o único. Por isso mesmo, precisa ter muito cuidado com quem você resolve compartilhar seus sonhos. Os assassinos de sonhos podem perfeitamente passar-se por amigos para roubar-lhe os seus sonhos; quando não conseguem, eles tentam de todas as formas destruí-los.

Conclusão

O Senhor é o Deus de sonhos! Diferentemente dos ladrões de sonhos, ele pode fazer com que seus sonhos se tornem verdade. Por isso:

"Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos serão bem-sucedidos." (Pv 16:3 NVI) 

Deus diz ainda:

"Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês”, diz o Senhor, “planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro." (Ez 29:11 NVI)

* Todas as referências bíblicas citadas foram retiradas da Bíblia On-Line (www.blibliaonline.net), versão em Português por João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada (ARA), excetuando-se aquelas cuja tradução for citada, como a Nova Versão Internacional (NVI) ou Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH).
* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 19/01/2014.
Notas e referências:
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