terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Feliz Ano Velho


“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3:21)
 

Feliz Ano Velho, escrito por Marcelo Rubens Paiva, publicado em 1982, retrata a experiência biográfica do autor, em que conta como um mergulho em um lago o deixou tetraplégico, poucos dias antes do Natal de 1979. Durante um passeio com um grupo de amigos, Marcelo resolve dar um mergulho em um lago, no estilo Tio Patinhas, em busca de um suposto “tesouro”. O que ele não sabia (ou pelo menos não percebeu) era que o lago tinha apenas meio metro de profundidade. Resultado: bateu com a cabeça (no fundo ou em uma pedra?), quebrou uma vértebra e acabou em uma cadeira de rodas aos 20 anos. Com uma linguagem franca e irreverente, o livro se tornou um best-seller na década de 1980, tendo várias adaptações para o teatro e até mesmo um filme homônimo, lançado em 1987, estrelado por Marcos Breda e Malu Mader. O filme foi premiado no Festival de Gramado de 1988, em diversas categorias.

POR QUE feliz ano velho?

Acredita-se que o título do livro tenha sido escolhido para mostrar quão boa era a vida antes do acidente (apesar de ficar evidenciado nos relatos do autor que, mesmo na cadeira de rodas, a vida continua sendo uma bênção). Aliás, se você ouviu ou leu a mensagem “O Lado Bom”, vai concordar que, em muitos aspectos, a vida dele pode ter se tornado bem melhor.
Ao lembrar do título do livro/filme, fiquei conjeturando acerca daquelas pessoas que “eram felizes e não sabiam”; que no ano velho tiveram muitas conquistas, prosperaram, dedicaram-se à família, eram atuantes na igreja, obtiveram reputação, conseguiram excelentes resultados nos estudos, enfim, viveram intensamente, no melhor estilo carpe diem. Por “ano velho” entenda-se o ano que está terminando, o ano passado (ou anos passados), o mês passado, ou ainda qualquer tempo no passado, em que você tenha desfrutado de boas experiências, as quais hoje (ano novo) rarearam.

O QUE PASSOU, PASSOU?

É freqüente ouvirmos as pessoas defenderem que “o que passou, passou”. OK. Não gostaria de fazer apologia ao “dia de ontem”, até mesmo porque repudio a atitude daqueles que, de tanto olharem o passado, esquecem-se de viver o agora. Quero dizer o seguinte: se o que passou era melhor do que o que você está vivendo agora, está na hora de você pensar em “voltar atrás” (Ap 2:4-5). Pare e pense sobre algumas questões: Por que razão perdi tudo o que conquistei? Se acredito estar agindo da mesma forma, por que as coisas não estão mais dando certo? O que é preciso para reconquistar? Como voltar ao “primeiro amor”?
Alguém já disse que as oportunidades são como flechas lançadas, que não voltam mais. Pois bem, podemos dizer que as oportunidades não voltam, mas não podemos precisar que Deus não vai conceder outra parecida. Além disso, outras oportunidades certamente virão. Seja como for, se você não valorizou aquelas que Deus disponibilizou, é o momento de fazer como prescreveu o apóstolo Paulo em Cl 4:5.

FELIZ ANO, MEU VELHO

O texto de Mt 6:34 incita-nos a não nos preocuparmos com o “dia de amanhã”, pois “basta ao dia o seu próprio mal”. Você deve concordar comigo que o Senhor não estava dizendo que devemos viver o presente momento sem a expectativa de que haverá um amanhã, tampouco que devemos deixar tudo “nas mãos de Deus” e não fazer nada. Ora, é por uma hermenêutica desse calibre que muitos “irmãos” estão deixando um péssimo (ou mesmo nenhum) legado aos seus filhos.
Dessarte, que o seu ano novo seja tão (ou mais) feliz do que foi o velho. Não nos esqueçamos, porém, de que “feliz” pode não significar que “tudo ocorreu às mil maravilhas”, da forma como planejamos ou desejamos. Tanto é verdade, que o próprio Senhor Jesus, no memorável Sermão do Monte, pontificou várias “bem-aventuranças” (felicidades) (Mt 5:1-11), dentre as quais: “bem-aventurados os que choram” (v. 4), “bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça” (v. 10) e “bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e mentindo, disserem todo mal contra vós” (v. 11).

CONCLUSÃO

“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3:21). Talvez o seu ano velho não tenha sido tão bom assim. Nada obstante, comece resgatando tudo aquilo de bom que você vivenciou (até mesmo experiências aparentemente desagradáveis), que podem lhe dar esperança, para que o novo ano (novos anos?) seja, de fato, melhor.
SHANÁ TOVÁ!**
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* Mensagem proferida na Igreja de Cristo Missionária, em 19/12/2010.
** Em tempo: Shaná Tová é a expressão hebraica para Feliz Ano Novo!

Referências:
Bíblia On Line Net. Disponível em: http://www.bibliaonline.net/
WIKIPÉDIA. A enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Senhor do Templo

"Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu vos digo: aqui está quem é maior que o templo." (Mt 12:5-6)

Ao longo da História das religiões, o templo sempre foi considerado o lugar da adoração, da devoção, da oferenda. Ainda hoje, diversas culturas, povos, tribos e línguas usam os templos (sejam singelos altares ou choupanas, ou ainda suntuosas instalações revestidas de ouro e pedras preciosas) como locais sagrados onde os fiéis se reúnem para apresentar louvor às suas divindades.
Em se tratando do povo judeu, no período em que atendiam apenas pelo termo hebreu, observamos que, na ausência de um local adequado, os próprios fiéis construíam altares destinados à adoração do Deus “Eu Sou” (YHWH) (Noé – Gn 8:20; Abrão – Gn 12:7; Isaque – Gn 26:25; Jacó – Gn 33:20; Moisés – Êx 17:15).
Em seguida, foi a vez do Tabernáculo: a primeira construção de grande porte destinada à devoção ao Deus de Israel. Entre os capítulos 25 e 31 do livro de Êxodo, encontramos as instruções de Deus a Moisés para a construção do Tabernáculo. Do capítulo 34 ao 40 do mesmo livro, lemos sobre a sua construção. Observa-se, desde os materiais até as formas e cores, um cuidado especial de Deus com aquele que seria o “lugar de Sua morada”. Por isso mesmo, o projeto do Tabernáculo já mostrava que seria um empreendimento caro: Só para falar dos metais usados, estima-se que foi recolhido cerca de 1.270 kg de ouro, 4.360 kg de prata e 3.050 kg de bronze (Êx 38:24,25,29).
Em Êx 25:8, lemos: “E me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles”. O termo tabernáculo, no original é derivado de uma raiz que significa, literalmente, “estabelecer-se”, “morar”. Por esse motivo, era também chamado de “a tenda” (Êx 26:36), “a tenda da congregação” (Êx 29:42) e “a tenda do Testemunho” (Nm 17:7).
A GLÓRIA DO PRIMEIRO TEMPLO
O primeiro templo judaico fora construído pelo rei Salomão, no séc. XI a.C., no local anteriormente adquirido por seu pai para a construção de um altar ao Senhor, na região de Moriá, de um jebuseu chamado Araúna (2 Sm 24:21-25), também chamado Ornã (1 Cr 21:18), e levou sete anos para ser concluído (1 Rs 6:37-38). É sabido que a construção de um templo ao nome do Senhor era um desejo do coração do rei Davi, mas que lhe foi negado, porque teria derramado muito sangue durante o seu reinado (2 Sm 7:12-13; 1 Rs 5:3-5; 1 Cr 28:2-3).
Em 1 Cr 29:5-7, lemos que o rei Davi incentivou o povo a ofertarem para a construção do templo, e o resultado foi: cinco mil talentos de ouro (cerca de 168 toneladas), dez mil talentos de prata (aproximadamente 336 toneladas), dezoito mil talentos de bronze (algo em torno de 675 toneladas) e cem mil talentos de ferro (o equivalente a 3.750 toneladas). Isso sem falar da oferta pessoal de Davi: três mil talentos de ouro (mais de 100 toneladas) e sete mil talentos de prata (cerca de 235 toneladas), e dos demais materiais ofertados pelo povo, como pedras preciosas e tecidos.
Quanto ao contingente envolvido na obra, temos: 30 mil homens de Israel para irem ao Líbano (1 Rs 5:13-14), 70 mil para levarem as cargas e 80 mil para trabalharem pedras nas montanhas (1 Rs 5:15), além de 3.850 como responsáveis pela obra (1 Rs 5:16; 9:23). Ou seja, um total de 183.850 homens. Desse total, 150 mil eram estrangeiros, parte do povo cananeu que vivia em Israel (1 Rs 9:20-21; 1 Cr 22:2; 2 Cr 2:2).
Em se tratando das dimensões do templo, encontramos o seguinte: 60 côvados de comprimento, 20 de largura e 30 de altura (1 Rs 6:2). Se considerarmos a medida comumente aceita (côvado = 46 centímetros), então o templo teria 27,60m x 9,20m x 13,80m. Há que se considerar, no entanto, que o texto de 2 Cr 3:3 pode indicar um côvado maior (53 centímetros), e nesse caso teríamos: 31,80m x 10,60m x 15,90m.
Na dedicação do templo, depois que os sacerdotes inseriram a arca da aliança no Santo dos Santos, uma nuvem encheu a casa do Senhor. Tão grande era a glória de Deus naquele lugar que os sacerdotes não puderam permanecer ali para ministrar (1 Rs 8:10-11). Como sacrifício, Salomão ofereceu 22 mil bois e 120 mil ovelhas (1 Rs 9:63).
O tEMPLO reconstruído
Em 586 a.C., quando Zedequias era rei sobre Judá, Nabucodonosor II, também chamado Nebucadrezar, após a tomada de Jerusalém, destruiu o primeiro templo, dando início ao que ficou conhecido como exílio ou cativeiro babilônico (2 Rs 25:1-10). Com a tomada de Jerusalém e a destruição do templo, todos os utensílios foram levados para Babilônia (2 Rs 25:13-17).
A primeira reconstrução do templo se deu em 516 a.C., com o retorno de quase 50 mil judeus (49.897, para ser exato – Ed 2:64-65) à sua terra, sob o comando de Zorobabel, após Ciro da Pérsia ter dominado a Babilônia. De acordo com o relato do livro de Esdras (1:1-4), o rei Ciro decretou o retorno de todos os judeus à sua terra e a reconstrução do templo no mesmo local do primeiro.
Esdras descreve ainda que, já no momento em que os alicerces do novo templo foram lançados, “muitos dos sacerdotes e levitas e cabeças de famílias já idosos, que viram a primeira casa, choraram em alta voz quando à sua vista foram lançados os alicerces desta casa” (Ed 3:12). O profeta Ageu é mais enfático quando lança a pergunta: “Não é ela como cousa de nada aos vossos olhos?” (Ag 2:3).
Na dedicação desta casa, foram oferecidos 100 novilhos, 200 carneiros, 400 cordeiros e 12 cabritos. Note que esta oferta foi mais de 200 vezes menor do que aquela apresentada quando da dedicação do primeiro templo. Isso pode ser explicado pelo fato de o povo no tempo de Esdras ser muito mais pobre e em menor número. Apesar disso, o Senhor declarou que a glória desta última casa seria maior do que a da primeira (Ag 2:9).
No séc. II a.C., o segundo templo foi profanado por Antíoco Epifânio, que governou a Síria entre os anos 175 e 164 a.C. De acordo com registros históricos, Antíoco mandou sacrificar uma porca no altar.  Tal incidente deu origem à chamada revolta dos Macabeus.
No ano 4 A.D., Herodes o Grande, com o intuito de ganhar a simpatia dos judeus, mandou reconstruir o templo. Na realidade, o verdadeiro propósito de Herodes era agradar a César. Segundo informações, esse terceiro templo teria sido maior e mais portentoso do que os dois primeiros.
Por fim, esse terceiro templo (que ficou conhecido como Templo de Herodes) fora destruído quase que totalmente, no ano 70 A.D., por Tito Flávio, então imperador romano, em resposta à Grande Revolta Judaica, que teve início no ano 66 A.D. Atualmente, historiadores concordam que o Muro das Lamentações foi a única coisa que restou do terceiro templo.
O SENHOR DO TEMPLO
No texto de Mt 12:1-8, os fariseus questionam a Jesus sobre o fato de os discípulos terem violado o sábado, colhendo espigas. Em resposta, o Senhor afirma que está diante deles quem é maior do que o templo (o reino de Deus) e que o Filho do Homem é maior do que o sábado.
Outro episódio que envolve o cuidado com o templo está registrado em Mt 21:12-13, quando o Senhor expulsou os que vendiam e compravam e virou as mesas dos cambistas e cadeiras dos que vendiam pombas.
O VERDADEIRO TEMPLO
Fazendo um retrospecto dos lugares de adoração apresentados até agora (Altares, Tabernáculo, Templo de Salomão, Templo de Zorobabel e Templo de Herodes), chegamos a pelo menos uma conclusão: Deus queria habitar (“tabernacular”) entre os homens.
Todos esses lugares de culto são apenas uma figura do verdadeiro templo, aquele revelado em 1 Co 6:19: “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?”
Quando diante da mulher samaritana, o Senhor já havia feito essa revelação:
“Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.[…] Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:21,23,24).
Nestes dias, temos acompanhado inúmeras discussões em torno do templo. Tais discussões passam pela forma, arquitetura e até mesmo aspectos ornamentais. Recentemente, a Igreja Universal do Reino de Deus anunciou a construção de um mega-templo no Bairro do Brás, em São Paulo, como uma réplica do Templo de Salomão. Segundo dados oficiais, a obra, que está orçada em 200 milhões de reais, deverá ser concluída em 2014, e abrigará cerca de 13 mil pessoas. Diante disso, há aqueles que exaltam o empreendimento, ao mesmo tempo em que outros desferem ataques dizendo que se trata de uma obra desnecessária.
E o que dizer dos nossos templos? Você não concorda que existe uma preocupação exacerbada com os nossos locais de culto? Talvez essa preocupação sobrepuje até mesmo a preocupação com os membros, que são a própria igreja (1 Co 12:27).
CONCLUSÃO
Em lugar de nos desgastarmos em torno de questões supérfluas no que tange ao templo feito por mãos humanas, está na hora dos verdadeiros cristãos se preocuparem com o verdadeiro templo, que é a morada do Espírito Santo.
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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária, em 28/11/2010.

Referências:

Bíblia On Line Net. Disponível em: http://www.bibliaonline.net/

Deffinbaugh, Bob. O Tabernáculo - O lugar da morada de Deus (Êxodo 35:8 - 39:43), disponível em:
http://bible.org/article/o-tabernáculo-o-lugar-da-morada-de-deus-êxodo-358-3943, acesso em 25/11/2010.
Ryrie, Charles Caldwell. A bíblia anotada, Mundo Cristão, 1994: São Paulo.
WIKIPÉDIA. Nabucodonosor II. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nabucodonosor_II_da_Babilónia

__________. Templo de Salomão. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_salomão

__________. Segundo Templo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Segundo_Templo

__________. Grande Revolta Judaica. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Revolta_Judaica

__________. Templo de Salomão(IURD). Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salomão_(IURD)

domingo, 31 de outubro de 2010

Qual a sua identidade?

Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de hoje. Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres, de que são testemunhas o sumo sacerdote e todos os anciãos. Destes, recebi cartas para os irmãos; e ia para Damasco, no propósito de trazer manietados para Jerusalém os que também lá estivessem, para serem punidos. Ora, aconteceu que, indo de caminho e já perto de Damasco, quase ao meio-dia, repentinamente, grande luz do céu brilhou ao redor de mim. Então, caí por terra, ouvindo uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Perguntei: quem és tu, Senhor? Ao que me respondeu: Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu persegues. (At 22:3-8 - Apóstolo Paulo, quando se defendia perante o povo romano, antes de ser levado ao Sinédrio)


A identidade é uma espécie de distintivo de uma pessoa. Isso significa que ela é muito mais do que um simples documento, que indica determinadas características de um indivíduo, como nome, data de nascimento, naturalidade e filiação. O termo identidade, em sentido lato, abarca um sem-número de elementos, que vão desde as simples características físicas, passando por gostos e preferências, até traços da personalidade. Na comparação com os documentos, seria como se reuníssemos todos aqueles usualmente aceitos (Certidão de Nascimento/Casamento, RG, CPF, CTPS, CNH, PIS, Título Eleitoral, Passaporte, Certificados etc.) em um único documento, acrescido de outras tantas informações pessoais não disponíveis em documentos tradicionais.

A IDENTIDADE DO CRENTE

Cada indivíduo, grupo, organização, instituição, povo ou nação, tem a sua identidade. Se pensarmos na igreja como povo ou instituição, chagaremos à conclusão de que existem traços típicos da cultura da igreja, como: linguagem, costumes, regras, princípios, objetivos etc. Enquanto indivíduo, cada crente possui um conjunto de particularidades, aí incluídas aquelas consideradas singulares.

Isto posto, como poderíamos definir a identidade da igreja de Cristo? Quais as características comuns a todo crente? Vejamos alguns distintivos da igreja cristã:

Deus – A História mostra que os povos escolhem ou adotam os seus próprios deuses. No caso da igreja cristã, é bem diferente: foi o próprio Deus que a escolheu e a adotou (Rm 8:15; Gl 4:4-5; Ef 1:5). Vale lembrar aos leitores desavisados que o verdadeiro Deus jamais aceitou ser confundido com outros deuses, o que inclui o culto a supostas representações divinas, como imagens de escultura e/ou gravuras, o que vulgarmente conhecemos como idolatria. Adorar, louvar, venerar - ou seja lá qual for o verbo que você use - imagens, pessoas ou objetos só servem para despertar a repulsa do Criador (Êx 20:3; 23:13; Jz 10:13; Jr 44:8).

– Alguém poderá protestar que todo mundo tem fé. Mas, a referência é à fé preconizada em Hb 11:1, ou seja, acreditar naquilo em que não se pode ver, mais especificamente, no Deus Soberano, o Criador de todas as coisas.

Bíblia – Por muito tempo, os crentes foram identificados apenas pela expressão “povo do livro”, e, individualmente, o crente era chamado “bíblia” ou “homem-bíblia”. Não é preciso dizer que esses adjetivos foram aplicados com o sentido pejorativo. Hoje, a Palavra de Deus (Hb 4:12; 2 Tm 3:16) é usada até mesmo por grupos que, antes, questionavam sua inspiração divina. Outros, que antes duvidavam de sua historicidade, estão vendo a História e a Ciência confirmarem aquilo que nela está registrado.

Jesus Cristo – O grande diferencial entre a igreja e os demais grupos, que juram ter fé em Deus e acreditar e usar a Bíblia, é a pessoa do unigênito de Deus: Jesus Cristo. Os crentes acreditam que foi o próprio Jesus Cristo quem fundou a igreja, baseados em Mt 16:13-19. Além de ser o Senhor da igreja, Cristo também é o seu Redentor (Ef 1:5-7) e Salvador (apesar de crermos que ele morreu por todos os homens) (At 2:36).

Batismo – É considerado o sacramento que marca o ingresso do crente na comunidade da igreja, sendo ainda a representação do sepultamento do velho homem e o nascimento do novo homem, a partir do arrependimento dos pecados (At 2:38). Aliás, o termo batismo é a transliteração do grego "βαπτισμω" (baptismō) para o latim (baptismus), que significa “mergulho”, “imersão”.

Santa Ceia
– Outro dos principais sacramentos da igreja, foi instituída pelo próprio Cristo, durante o que ficou conhecido como “A Última Ceia”, horas antes de ser preso pelos soldados romanos a pedido dos líderes religiosos judeus de seu tempo. O pano de fundo para a Última Ceia foi a festa da Páscoa, comemorada anualmente pelos judeus, no primeiro mês do ano (nisan ou abibe), que incluía um jantar em família (Seder – a ceia), cujos principais elementos eram o pão sem fermento ou asmo (matsá), o vinho, ervas amargas (maror), e o cordeiro. A Páscoa judaica (ou Pessach) foi instituída com o fim de servir de memorial da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito e do livramento do Anjo Vingador (Êx 12). Da mesma forma, a Ceia é um memorial da libertação da escravidão do pecado e do inimigo e da redenção através do Cordeiro de Deus (Mt 26:17-30).

PERDENDO A IDENTIDADE

Você já deve ter ouvido falar que determinada pessoa “perdeu sua identidade”. Isso acontece quando deixamos de manifestar ou evidenciar alguma característica até então peculiar. Só que, muitas vezes, essa “perda de identidade” não significa exatamente que perdemos tal peculiaridade, mas sim que agregamos ou revelamos outras; ou, pior ainda, quando aquilo que evidenciávamos não passava do que podemos chamar de “identidade aparente” (apenas uma maneira mais polida para “falsa identidade”).

CRISE DE IDENTIDADE

Pior do que a perda de identidade, ou do que a identidade aparente, é a crise de identidade. Uma coisa é a pessoa “virar a casaca” espiritualmente, passando a servir ao diabo, ou ainda passar-se por cordeiro; outra, bem diferente, é a adoção de uma posição dúbia aos olhos dos outros (e a seus próprios olhos também) com relação a Deus. Tais pessoas ainda não estão certas quando ao lado que estão, em que time jogam. Para eles, o texto de Ap 3:15-16 se aplica perfeitamente: não são frios nem quentes.

CONCLUSÃO


Nestes tempos, os crentes estão sendo desafiados a mostrar a sua cara. A evidenciar a sua identidade, sem medo. Estranhamente, com a popularização da fé, ficou mais difícil diferenciar aqueles que, de fato, são de Deus dos que não são.


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Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária, em 03/10/2010, por ocasião da celebração da Ceia do Senhor.



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sábado, 11 de setembro de 2010

O Lado Bom

"Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que sao chamados segundo o seu propósito." (Rm 8:28)
Você é daqueles que vivem reclamando da vida? Que sempre estão se queixando dos problemas que acontecem? Que quase nunca estão satisfeitos com o que têm? Que só vêem os defeitos de uma pessoa? Então esta mensagem é para você. Se sua resposta foi NÃO a todas essas questões, muito provavelmente conhece alguém assim.

Ora, é fato que todos, em determinado momento ou circunstância, somos acometidos por um surto de pessimismo ou negativismo. Isso é perfeitamente normal. Agora, outra coisa bem diferente é aquele indivíduo que nunca parece estar satisfeito com nada; não abre a boca para agradecer pelo que tem, senão para se queixar do que não tem; quando tem, reclama que é insuficiente…

Pessoas assim só conseguem ver o lado ruim das coisas; só percebem as falhas, sem nem ao menos reconhecer as virtudes, por mais patentes que sejam.

O LADO BOM DAS COISAS

Está comprovado cientificamente que, se um indivíduo mira em determinada situação ou evento (bom ou mau), aquela situação ou evento passa a ter considerável preponderância para ele. Não entendeu? Então, permita-me ser mais claro: se você tem diante de si uma qualidade boa e outra má, é natural que sua atenção seja voltada apenas para uma delas. Quando isso acontece, a outra qualidade deixa de ter importância. O mesmo acontece quando nos deparamos com duas situações extremas.

Alguém já disse que “tudo tem o seu lado bom”. Não gostaria de teorizar sobre isso, mas prefiro partir do seguinte pressuposto: quando você sabe que existe um lado bom, concentre todos os seus esforços nesse lado bom. Quando fazemos esse exercício, percebemos que até mesmo situações extremamente desagradáveis, dolorosas, vexatórias, decepcionantes, podem conter muito mais do que conseguimos notar em um primeiro momento. Não raro, experiências como essas se revelam um limiar para o alcance de uma posição desejada. Alguns chamam a isso de “usar as dificuldades como oportunidades” ou “usar os obstáculos como escada para o sucesso”. Entenda como quiser, mas uma coisa é certa: quando miramos o bônus, em detrimento do ônus, a vida será melhor, o resultado será melhor, tudo tenderá a ser melhor.

OLHANDO O LADO BOM

Se você concorda com tudo o que já foi exposto até agora, deverá concordar com mais uma coisa: quando estamos vivenciando uma situação desfavorável, muito dificilmente vamos processar essa circunstância como benéfica. Exemplos? Você nunca se deparou com uma situação em que o mal se fez bem? Quantas pessoas escaparam de acidentes, só pelo fato de ficarem alguns minutos a mais no trânsito? Quantos desses se viram praguejando porque o atraso poderá significar a perda de um evento importantíssimo ou um negócio imperdível? E o que dizer daquelas pessoas que chegaram a chorar de raiva pelo fato de terem perdido um vôo, mas que o atraso acabou se revelando um escape: o avião caiu?

Por enquanto, estamos falando apenas de situações do nosso cotidiano. Mas, vejamos alguns exemplos extraídos da Bíblia.

José, o tal sonhador (Gn 37:2-47:36)

Alguém que vê a trajetória de José, filho de Jacó, poderia imaginar que ele sabia exatamente o que estava acontecendo? Pouquíssimo provável. Apesar de não saber o que aconteceria em sua vida, José demonstra uma atitude de confiança no Deus dos seus pais. Agora vejamos: despojado, jogado em uma cisterna, vendido pelos irmãos, feito escravo de Potifar, nomeado administrador da casa do comandante da guarda, preso com os servos de Faraó, constituído governador do Egito e libertador do povo de Israel.

Nos primeiros capítulos de sua trajetória, José poderia ter amaldiçoado seus irmãos e murmurado contra Deus. Mas, houve uma ocasião em que “caiu a ficha”: ele entendeu que todos aqueles eventos, por mais desagradáveis e dolorosos que tenham sido, foram usados por Deus para encaminhá-lo àquela posição.

Jó, o paciente (Jó 1-42)

Muito já se falou, sem dúvida, sobre esse homem identificado como “da terra de Uz”, que era “íntegro, reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (Jó 1:1). Poucas pessoas se queixariam de ter passado tão grandes penas como as relatadas no livro bíblico sobre esse homem. Outrora o homem mais rico do Oriente (“Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; era também mui numeroso o pessoal ao seu serviço, de maneira que este homem era o maior de todos os do Oriente.”1:3), que tinha sete filhos e três filhas, Jó se depara com uma situação de perda de (quase) tudo e de praticamente todos (saúde, família, bens, amigos). Mas, “em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.” (1:22)

No final dessa conhecida história, encontramos um homem totalmente restaurado, reassumindo sua posição de abastado (“e o SENHOR deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra.” - 42:10), com uma nova família, pois “teve outros sete filhos e três filhas.” (42:13). A conclusão de Jó foi que, apesar de achar que conhecia a Deus, faltava-lhe uma experiência mais vívida, pois disse: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem.” (42:5)

Paulo e Barnabé, amigos (quase) inseparáveis

Para aquele que costuma ler a Bíblia, não é nem um pouco difícil falar sobre o apóstolo Paulo (nome romano do judeu natural da cidade de Tarso chamado Saulo), conhecido como o apóstolo dos gentios e o principal responsável pela disseminação do Evangelho de Jesus Cristo por praticamente todo o Velho Mundo.

Apesar de não ter alcançado a popularidade do grande apóstolo, houve outro homem que se destacou na pregação da Palavra de salvação nos tempos dos apóstolos. Identificado no livro da história da igreja cristã como José, levita, natural da ilha de Chipre, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que significa “filho da consolação” (At 4:36), era um homem generoso (vendeu uma propriedade e depositou o dinheiro aos pés dos apóstolos), cheio de temor de Deus e do Espírito Santo, sendo identificado ainda como um dos mestres e profetas que havia na Igreja de Antioquia (At 13:1). Quando Saulo se converteu ao Evangelho de Jesus Cristo, foi Barnabé quem o encaminhou aos apóstolos, uma vez que estes duvidavam da conversão daquele que havia sido um grande perseguidor da Igreja de Cristo. Foi Barnabé quem acompanhou o próprio Saulo em sua primeira viagem missionária (Antioquia da Síria, Salamina e Pafos, na ilha de Chipre, Icônio, Listra, Derbe, Perge).

Pois bem, percebe-se que Paulo e Barnabé passaram a ser bem mais do que parceiros de missões. Mas, em At 15:36-40, houve um grande desentendimento entre os dois, tudo por causa de João Marcos (autor mais provável para o Evangelho de Marcos e primo de Barnabé – Cl 4:10), que também havia participado como auxiliar na primeira viagem missionária (At 13:5). Paulo convidou Barnabé para voltarem às cidades nas quais haviam anunciado o Evangelho, e Barnabé sugeriu que levassem a Marcos, mas Paulo não concordou pelo fato de ter Marcos os abandonado durante a viagem (At 13:13). Como conseqüência, Paulo e Barnabé se dividiram: Barnabé seguiu para Chipre em companhia de Marcos e Paulo seguiu para a Síria e Cicília na companhia de Silas.

O que você consegue depreender dessa fissão? À primeira vista, parece trágico que uma dupla que deu certo na pregação do Evangelho tenha se separado de tal maneira. Entretanto, olhe o lado bom: ao invés de uma comitiva apenas, a missão passou a ter duas. Apesar de o escritor de Atos não ter detalhado a viagem de Barnabé e Marcos, a partir de então, imagine a quantidade de pessoas que passaram a receber a palavra de Deus, sem dúvida, um número bem maior do que se tivessem ido juntos.

CONCLUSÃO

Olhe o lado bom das coisas, das pessoas, dos eventos, das circunstâncias. Pense naquilo que determinada experiência aparentemente ruim pode trazer como recompensa no final. Deus pode estar usando essa situação para colocar você em um lugar de destaque.

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Mensagem ministrada na Igreja de Cristo Missionária, em 22/08/2010.

sábado, 31 de julho de 2010

Nada Posso


“Tudo posso naquele que me fortalece”  (Fp 4:13)

Poucos textos da Bíblia são tão ou mais populares do que esse. Há quem diga até mesmo que o “tudo posso” na realidade tem a ver mais com circunstâncias do que com realizações. Nesse sentido, o apóstolo queria dizer “posso passar por toda e qualquer situação” e não “posso fazer todas as coisas”. Sem entrar no mérito da questão hermenêutica, pretendo apresentar outro enfoque para o texto. Mais exatamente, uma espécie de releitura que grande parte dos cristãos (ou pseudo-cristãos) vem fazendo da famosa epígrafe paulina.

A australiana Rhonda Byrne fez fortuna com o seu livro “O Segredo” (The Secret, no título original). No livro, a autora defende o que ficou conhecido como a Lei da Atração. Autores como Byrne fazem parte do chamado Movimento do Novo Pensamento (New Thought), que surgiu nos Estados Unidos, no final do século XIX, e que enfatiza crenças metafísicas, ligadas ao pensamento positivo, cura, força vital, visualização criativa e poder pessoal. Na realidade, diferentemente do que muitos pensam, a chamada Lei Universal da Atração (LUA), não foi concebida pela escritora australiana, mas remonta ao início do século XX.

O livro “O Segredo” defende, em linhas gerais, que "se você realmente quer alguma coisa e realmente acredita que é possível, você vai consegui-la". Mas, a atração também pode ser por coisas desagradáveis: se você coloca muita atenção e pensamento naquilo que não deseja, provavelmente vai receber assim mesmo.

Independentemente de ser adepto ou não da Lei da Atração ou do Movimento do Novo Pensamento, parece que algumas pessoas desenvolveram uma espécie de atração pela negatividade, ignorância ou incapacidade.

A síndrome do “eu não posso”, ”eu não sei”

Se você conhece a Bíblia, provavelmente admira personagens como Moisés, o grande líder e libertador do povo hebreu, que fez com que o Grande Mar se abrisse, que os guiou por cerca de 40 anos pelo deserto, que fez sair água da rocha, que viu a sarça ardente… Mas, também deve estar lembrado que o mesmo Moisés, ao ser chamado por Deus para a essa grande missão, disse: “Ah! Senhor! Eu nunca fui eloqüente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua” (Êx 4:10).

Você deve lembrar ainda do episódio em que o mesmo Moisés se viu em voltas para solucionar os problemas de todos os que chegavam até ele para reclamar, tendo em vista a magnitude do povo hebreu. Depois de ter questionado ao Senhor sobre a responsabilidade de todo o povo sobre si, Moisés arrematou: “Eu sozinho não posso levar todo este povo, pois me é pesado de mais” (Nm 11:14).

E o que dizer do grande profeta Jeremias? Quando o Senhor falou com ele, dizendo que o havia escolhido no ventre de sua mãe para ser profeta, o mesmo retrucou: “Ah, Senhor Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança” (Jr 1:6).

Note que é perfeitamente compreensível, vez ou outra, o indivíduo se ver inapto para realizar determinada obra (“Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir” - Sl 139:6). Agora, outra coisa bem diferente é você ficar dizendo repetidas vezes que não pode, não sabe, para tudo e para todos. Pessoas assim adquiriram o que podemos chamar de “síndrome do ‘eu não posso’, ‘eu não sei’”. Não têm nem mesmo coragem de tentar e já sabem que não vão conseguir.

Nada posso

Agora, permita-me aprofundar mais essa questão. Você sabe por que idéias como a Lei da Atração fazem tanto sucesso, sobretudo nos campos da autoajuda? Dentre outras razões, simplesmente porque apregoam muitas verdades. Não, não estou fazendo apologia a movimentos anticristãos baseados no pensamento positivo. Veja se você concorda com o que esses homens disseram:

“Se você pensar que pode, ou que não pode, de qualquer modo você estará certo” (Henry Ford)

“Siga a sua alegria e o Universo abrirá portas para você onde antes só havia paredes” (Joseph Campbell)

“Sim, nós podemos” (Barack Obama, fazendo uso do slogan de sua campanha para a presidência dos EUA)

Não precisamos concordar com todas as idéias contidas na teoria da L.U.A. Mas, parece muito coerente que, se o indivíduo passa o tempo todo repetindo e mentalizando que as coisas não vão dar certo, ou então que não é capaz de executar determinada tarefa, é de se esperar que o pior aconteça. Posso arriscar que o oposto é verdadeiro. Se não concorda, o que dizer dos textos abaixo?

“Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento.” (Tg 1:6)

“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15:7)

“Porque, como imagina em sua alma, assim ele é...” (Pv 23:7)

Conclusão

Diferentemente dos sistemas de programação mental, visualização criativa ou pensamento positivo, cremos e preconizamos um modelo que privilegia a fé, baseado no princípio de Mc 9:23: “Tudo é possível ao que crê”.

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Mensagem proferida em 25/07/2010, na Igreja de Cristo Missionária.

Links consultados:
http://pt.wikipedia.org

quinta-feira, 24 de junho de 2010

As dicotomias da cruz

Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. (Hb 12:1-2 NVI)

Universalmente conhecida como um dos grandes símbolos do Cristianismo, a cruz aceita um sem-numero de definições, abarcando uma infinidade de significados, dentre os quais: sofrimento, dor, castigo, ignomínia, morte. Mas, por que dizer que a cruz simboliza o Cristianismo se, ao mesmo tempo, está associada a conceitos tão conflitantes com o ideário cristão?

Popularmente conhecida como instrumento romano de tortura, a cruz (do grego tau e do latim crux) tem sua origem em épocas muito mais remotas. Sabe-se que é um dos símbolos humanos mais antigos e é usada por várias religiões[1]. Há registros até mesmo sobre a origem pagã do símbolo: exemplos são as relíquias dos babilônios, assírios e egípcios[2] (neste último caso, a cruz era a Ankh [pronuncia-se "anak"], mais conhecida como Ansata, representada pela figura ao lado, e era usada como símbolo da vida).

Quanto ao fato de se tratar de um instrumento de tortura romana, na Enciclopédia Bíblica do site BíbliaWorldNet encontramos que outros povos também a usavam com a mesma finalidade, dentre os quais: assírios, persas, fenícios, egípcios e gregos[3].

No Dicionário Bíblico do site bibliaonline.net encontramos a seguinte definição para a Cruz:

“A crucificação era um método romano de execução, primeiramente reservado a escravos. Neste ato se combinavam os elementos de vergonha e tortura, e por isso este processo de justiçar os réus era olhado com o mais profundo horror. O castigo da crucificação começava com a flagelação, depois de o criminoso ter sido despojado dos seus vestidos. No azorrague muitas vezes os soldados fixavam pregos, pedaços de osso, e coisas semelhantes, podendo a tortura do açoitamento ser tão forte que às vezes o flagelado morria em conseqüência dos açoites. Geralmente a flagelação era efetuada estando o réu preso a uma coluna.” [4]

Quais são, portanto, as grandes contradições desse multifacetado símbolo?

Símbolo de morte ou representação da vida?  
“tornando-se obediente até a morte e morte de cruz” (Fp 2:8)

A primeira grande dicotomia, diz respeito ao fato de, por um lado, a cruz representar a morte: durante o Império Romano, era o método mais cruel de punição aos criminosos, culminando, inevitavelmente, com a morte. Por outro lado, a mesma cruz tornou-se a representação da própria vida (e vida eterna), em Jesus!

Sinônimo de sofrimento e dor ou alívio diante dos mesmos? 
“...não fazendo caso da ignomínia” (Hb 12:2)

Em segundo lugar, tão horripilante quanto à crucificação eram os preliminares. Antes de ser crucificado, o criminoso deveria passar pela flagelação, o que incluía a surra de chibata (ou azorrague), sem falar na caminhada até o local da crucificação na qual era obrigado a carregar a própria cruz, sendo açoitado ainda no caminho e recebendo toda sorte de injúria e afronta. Em contrapartida, a mesma cruz passou a ser o meio pelo qual todos os homens recebem alívio para suas dores, cura para suas feridas e refrigério para sua alma cansada.

Desfecho da vida ou recomeço?  
“...o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gl 6:14)

A terceira grande dicotomia da cruz está relacionada ao fato de, em um primeiro momento, ela encerrar a vida daquele que foi condenado. Alguns estudiosos defendem que, no período da hegemonia do Império Romano, a cruz era o método destinado à condenação dos piores criminosos, sendo que, muitas vezes, o condenado morria antes mesmo de ser crucificado, tamanha era a rigidez das flagelações. Entretanto, em Cristo, a cruz passou a ser um grande divisor de águas, na medida em que representa o começo de uma nova vida, em que o pecado não tem mais domínio sobre a pessoa.

Ferramenta de castigo ou instrumento da graça?  
“...destruindo por ela a inimizade” (Ef 2:16)

Outra grande dicotomia é aquela concernente à cruz como ferramenta de castigo e, como visto, a pior delas, a despeito dos inúmeros outros expedientes conhecidos para infligir sobre os criminosos. Nada obstante, ao mesmo tempo, foi o instrumento usado por Deus para que, através de seu Filho, os homens fossem alcançados pela graça.

Triunfo do inimigo ou vitória do Filho de Deus?
“...publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2:15)

Por fim, há ainda o fato de que, a princípio, a cruz aparenta ser a derrocada de Cristo e, por conseguinte, do plano de Deus para a humanidade. Você deve estar lembrado daquela cena da produção cinematográfica dirigida por Mel Gibson sobre a paixão de Cristo: quando Jesus expira, o diabo se regozija e com ele o inferno inteiro jubila pela morte do Filho de Deus. Mas, diferentemente do que o inimigo pensava, a morte do Cristo, conforme previsto pelos profetas, foi a representação da vitória de Jesus sobre o domínio do mal, sendo a ressurreição a materialização dessa vitória.

Conclusão 
“...loucura para os que se perdem, mas para nós… poder de Deus”  (1 Co 1:17-18)

A despeito de seu valor para a humanidade, a cruz de Cristo não é um fim em si mesmo. É, sim, o meio pelo qual o Deus Todo-Poderoso oferece aos homens a oportunidade de se verem livres de suas cargas. Nem tampouco é digna de que nos curvemos diante dela, na medida em que já está vazia, ou ainda a usemos como amuleto. Melhor do que a cruz é a mensagem da cruz, é Jesus!
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* Mensagem proferida em 06/06/2010, na Igreja de Cristo Missionária, por ocasião da celebração da Ceia do Senhor.

Notas:
[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_(símbolo), acesso em 05/06/2010.
[2] http://www.celebrandodeus.com/Artigos/artigo_OrigemDaCruz.asp, acesso em 05/06/2010.
[3] http://www.bibliaworldnet-util.locaweb.com.br/biblia/, acesso em 05/06/2010.
[4] http://www.bibliaonline.net/scripts/dicionario.cgi?procurar=cruz&exata=on&link=bol&lang=BR, acesso em 05/06/
2010.
Bíblia On Line – http://www.bibliaonline.net, acesso em 04/06/2010.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – http://www.priberam.pt/, acesso em 04/06/2010.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Santificação: um desafio

A santidade ou santificação não tem nada de “anormal”, transcendental ou metafísico. Como sabemos, santidade significa “separação” (mas não necessariamente de alguém ou de algo). Essa separação indica, mais precisamente, uma diferenciação, um contraponto.

Apesar de a santidade não ser “coisa do outro mundo”, não se pode considerá-la fácil de ser vivida. Todos aqueles que querem viver uma vida de santidade precisam abrir mão de muitas coisas, às vezes até mesmo de sonhos.

1. Santidade é sinônimo de mudança

“Isto, portanto, digo e no Senhor testifico, que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade de seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza dos seus corações, os quais, tendo-se tornado insensíveis, entregaram-se à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de torpeza.” (Ef 4:17-19)

Toda mudança produz certo grau (maior ou menor) de instabilidade. Até mesmo quando se trata de “mudar para melhor”. Pense, por exemplo, na mudança de casa: fazer as malas, embalar os utensílios e louças, desmontar os móveis, desfazer-se de alguns bens… Tudo isso traz transtorno e, o que é pior, não raro provoca incertezas: Como será na nova casa? Vamos nos adaptar à nova realidade? Será que a vizinhança é boa?

Todos passamos por mudanças em nossa vida. Mas, uma coisa é certa: independentemente do resultado, em geral, o processo de mudança não é agradável.

2. Santidade implica abdicação

“Mas a impudicícia, e toda sorte de impurezas, ou cobiça, nem sequer se nomeie entre vós, como convém a santos, nem conversação torpe, nem palavras vãs, ou chocarrices, cousas essas inconvenientes, antes, pelo contrário, ações de graça.” (Ef 5:3-4)

Abdicar é renunciar, abrir mão de algo que gostamos ou que estamos acostumados a fazer. E isso, por si só, já produz incômodo.

É interessante como nosso cérebro reage quando nos deparamos como uma situação nova. Por exemplo: talvez você seja do tipo que não sai de casa sem o relógio, ou melhor, que não tira o relógio pra nada. Pois bem, imagine que você tenha levado o relógio para o relojoeiro, com o fim de corrigir um problema específico, e que só ficará pronto na próxima semana. Nesse caso, excepcionalmente, você sai de casa sem relógio. O que vai acontecer se lhe perguntarem as horas? Provavelmente, você olhará no pulso onde usa o relógio. Isso acontece porque seu cérebro já está programado para tal atividade.

Outro exemplo: quando a pessoa tem algum problema, que precisa ser retirado ou evitado (pedra no rim, tumor, carne crescida, vício etc.), inevitavelmente essa retirada implica desconforto e até mesmo dor.

Quando aceitamos o chamado para sermos santos (“E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo” Êx 19:6; “E ser-me-eis homens santos; portanto não comereis carne despedaçada no campo; aos cães a lançareis.”Êx 22:31), começamos a nos despojar daqueles costumes que já estavam arraigados em nosso comportamento. Apesar de se tratar de coisas que reconhecemos serem erradas, haverá uma resistência natural.

3. Santidade pode representar solidão

“Vós, que amais ao SENHOR, odiai o mal. Ele guarda as almas dos seus santos; ele os livra das mãos dos ímpios.” (Sl 97:10)

Os cientistas sociais defendem que o ser humano é essencialmente relacional, ou seja, que foi criado para viver em sociedade (apesar de alguns animais apresentarem um grau de sinergia invejável aos olhos dos homens). Existem povos que têm uma tendência maior ao associativismo (é o caso dos brasileiros), ao passo que outros são mais reservados, individualistas, e até mesmo carrancudos (alguém aí pensou nos povos do Oriente Médio?).

Porém, o que se observa em relação a essa faceta dos seres humanos é que, em geral, a inclinação ao associativismo é mais fácil quando diz respeito a “fazer o que dá na telha”. Quer um exemplo? Convide um grupo de pessoas para uma festa. Muito provavelmente, haverá um sem-número de interessados. Se, por outro lado, você as convidar para um evento digamos mais social ou humanitário, na certa ouvirá muitos “nãos”.

A decisão pela santidade traz consigo um alto grau de solidão, menosprezo, abandono. Os outros (aqueles que não abraçarem essa causa), sentirão até mesmo aversão ao santo. Muitos o verão como “santarrão”, como se ele estivesse dizendo: “Fica onde estás, e não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu.” (Is 65:5).

Conclusão:

Quando Deus chamou um povo santo, ele não prometeu que seria fácil:

“Não bebereis vinho nem bebida forte, nem tu nem teus filhos contigo, quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto perpétuo será isso entre as vossas gerações; e para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo.” (Lv 10:9-10)

“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Rm 12:1)

Santidade exige um preço alto, renúncia, esforço. Você está disposto a pagar esse preço?

A Deus toda glória!
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* Palestra ministrada durante a 6ª edição do Retiro Espiritual da Igreja de Cristo Missionária, realizado entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 2010, em Benevides (Sítio do Cascão), sob o tema "Sede Santos".

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