quinta-feira, 30 de julho de 2009

São apenas lentilhas...

O episódio narrado a partir do capítulo 25 do primeiro livro da Bíblia, acerca dos irmãos Jacó e Esaú, até os nossos dias, tem gerado acaloradas discussões, estudos e debates. Até mesmo um romance machadiano foi inspirado pela epopéia dos irmãos Jacó e Esaú.

Em “Esaú e Jacó”, Machado de Assis conta-nos a estória de Pedro e Paulo, irmãos gêmeos, cuja inimizade foi sempre evidente. Conforme vão crescendo, tornam-se cada vez mais diferentes e rivais em tudo. Paulo é impulsivo e arrebatado, enquanto Pedro é dissimulado e conservador. Quando chegam à vida adulta, ambos entram para o mundo da política, e é aí que se encontram as suas maiores divergências: Paulo é republicano e Pedro, monárquico. E isso tudo justamente em plena época de Proclamação da República, pano de fundo para a narrativa. A rivalidade entre os irmãos atingiu um nível tão elevado, que até mesmo a vida amorosa deles foi marcada por conflitos, na medida em que acabam gostando da mesma mulher, Flora, que para inflamar mais a situação não decide com qual deseja ficar. Nem mesmo a morte de Flora, diante de cujo túmulo juraram reconciliar-se, foi suficiente para a aproximação dos irmãos, o que só aconteceu junto ao leito de morte da mãe.

O direito de primogenitura

De acordo com o costume hebreu (que depois se tornou Lei em Israel), o direito de primogenitura do filho mais velho lhe conferia precedência sobre seus irmãos (Gn 43:33 – os irmãos de José) e lhe assegurava porção dobrada da herança paterna (Dt 21:15-17).

Em Gn 48:21-22, lemos que Jacó abençoa a José com uma porção bem maior que a de seus irmãos. Mas, qual a razão para a maior porção de terra ter sido dada a José e não a Rúben, se este último era o primogênito de Jacó? A resposta está em 1 Cr 5:1, uma vez que Rúben perdeu seu direito de primogenitura, devido à sua fornicação com Bila, concubina de seu pai (Gn 49:3-4; 35:22).

Como no exemplo da formicação de Rúben, o direito de primogenitura poderia ser perdido pela prática de algum pecado sério e podia ser negociado, como no caso de Jacó e Esaú. Para se ter uma idéia do quanto essa tradição era levada a sério, o acordo entre os dois irmãos fora solenemente confirmado com um juramento (25:33).

Além dos casos de Jacó/Esaú e José/Rúben, existem pelo menos mais dois exemplos de perda da primogenitura, seja pela atitude inadequada de quem detinha o direito, seja pela vontade e intervenção do próprio Deus: Isaque/Ismael e Efraim/Manasses (Gn 48:14).

Quanto vale sua primogenitura?

É comum ouvir dos outros o seguinte bordão: “Eu também sou filho de Deus”, ou ainda: “Todos somos filhos de Deus”. Não pretendo comprar essa briga. Assim sendo, vamos partir do pressuposto de que todos sejam filhos de Deus. Entretanto, aplicando o princípio de primogenitura, devemos concordar que uma parcela considerável desses “filhos” nem sequer acredita em Deus, ao passo que a minoria absoluta acredita (os primogênitos).

Esaú, que naturalmente era primogênito, resolveu em seu coração negociar sua primogenitura. O preço? Um cozinhado de lentilhas. E você? Qual tem sido o preço de sua condição de primogênito de Deus?

Talvez você esteja perguntando: mas o que seriam as “lentilhas”? Lentilha pode ser tudo aquilo que usamos como paliativo para fugir de Deus: pode ser um emprego, um cargo, uma amizade, um namoro, um momento de entretenimento ou prazer, uma telenovela, um livro. Como vemos, as lentilhas não deixam de ser um “prato cheio” (trocadilho proposital). Mas, será que o preço compensa?

O cantor Sérgio Lopes, em uma de suas canções, expressou muito bem isso: “Meu Deus, não vou trocar o teu amor por lentilhas que o mundo tem. Ainda que durassem toda vida, não me fariam bem. Não posso recusar o teu amor; contigo eu serei sempre vencedor. O que o mundo dá são armadilhas, são apenas lentilhas.” (“Lentilhas”, 2005)

Conclusão

Percebe-se, claramente, que a máxima do Senhor Jesus (Mc 8:34) está sendo invertida: “Se alguém não quiser ir até Ele, deve primeiramente fazer a sua própria vontade”. E isso inclui apossar-se de tantos pratos de lentilha quantos forem necessários.

Renúncia, portanto, continua sendo a palavra-chave para todo aquele que deseja seguir ao Senhor. O resto? São apenas lentilhas…

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Referências:

http://pt.shvoong.com/books/829483-esa%C3%BA-jac%C3%B3/

http://www.sergiolopes.com.br/discografia_lentilhas2005.html

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