terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Uma vida restaurada

“Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua de júbilo; então entre as nações se dizia: grandes coisas o Senhor tem feito por eles. Com efeito, grandes coisas fez por nós; por isso estamos alegres.  Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe. Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.” (Sl 126)

É muito provável que você já tenha ouvido a palavra “contextualização”. Pois bem, contextualizar uma passagem bíblica, por exemplo, significa considerar a época, o momento histórico, a cultura dominante, a sociedade como um todo, assim como os aspectos econômicos e políticos do tempo em que o texto foi escrito. É por esse motivo que ouvimos a expressão “texto fora de contexto”, o que acontece toda vez que lemos um texto sem levar em conta os aspectos elencados anteriormente.

É sabido que o livro dos Salmos consiste em uma coletânea de cânticos, a maioria deles composta por Davi (73), além de outros autores: Asafe (12), os filhos de Coré (12), Salomão (2), Moisés (1), Hemã (1) e Etã (1). Cada salmo foi composto em decorrência de algum fato ou evento na vida do salmista ou do próprio povo de Israel.

No caso do Salmo 126, que alguns consideram ser de autoria do rei Ezequias, o momento histórico é o retorno dos exilados do cativeiro babilônico, que aconteceu em 538 a.C., a partir da promulgação do decreto do rei persa Ciro (Ed 1:1-4).

1.    O que é restauração?

O conceito de restauração pressupõe o retorno a um estado anteriormente vivido ou presenciado, estado esse que era melhor do que o atual. Restaurar, portanto, é devolver a algo (ou alguém) a forma ou aspecto que tinha antes; é renovar, revigorar, reconstruir…

“Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião…” – Na primeira linha do salmo, o autor já faz referência ao retorno do povo exilado à sua terra. A experiência era tão agradável que se pensava ser sonho.

“Restaura… como as torrentes no Neguebe” – O Neguebe era uma região desértica, no sul da Palestina, que periodicamente era inundado por águas sazonais. O texto exprime o sentimento dos israelitas exilados, que desejavam que seu “deserto” fosse inundado pelas águas da prosperidade novamente.

2.    Como se dá a restauração?

Pense em um objeto que esteve por muito tempo em meio à sujeira, à poeira ou lamaçal. Dependendo do ambiente, o tempo e o trabalho necessários para remover toda a sujeira acumulada podem ser consideráveis. Isso sem contar com outros fatores, como o tipo de material e, por conseguinte, o instrumento a ser usado para o trabalho, o cuidado ao proceder a limpeza (em alguns casos, pode-se danificar parcial ou completamente o objeto).

Guardadas as proporções, o processo necessário para restaurar uma pessoa pode se assemelhar ao descrito acima. É possível passar uma vida inteira tentando reabilitar uma pessoa, e ainda assim, o resultado não ser o esperado. Isso ocorre porque, diferentemente do objeto, as pessoas têm vontade própria. Pouco vai adiantar o esmero de uma família inteira em favor de um membro viciado, por exemplo, se este não desejar ser liberto.
 
Portanto, o primeiro passo para que haja a restauração é a vontade de ser restaurado (E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra.Mt 8:2-3). Veja o exemplo de Naamã, que era comandante do exército do rei da Síria (2 Rs 5). Segundo o texto, ele “era grande homem diante do seu senhor e de muito conceito, porque por ele o Senhor dera vitória à Síria; era ele herói de guerra, porém leproso” (2 Rs 5:1). Quando foi-lhe apresentada a possibilidade de ser limpo da lepra, a princípio ele resistiu, achando talvez que fosse humilhação demais para ele lavar-se em águas tão sujas como eram as do Jordão, já que em sua terra havia rios de águas límpidas (Abana, hoje Barada, e Farfar, hoje Awaj). Entretanto, ouvindo o apelo de seus oficiais, decidiu obedecer. Isso aconteceu porque ele desejava profundamente a cura.

Todos conhecemos o ditado que diz: “querer é poder”. Entretanto, isso não é verdade quando se trata de ter a vida restaurada por Deus (observe o texto acima). Assim, podemos até mesmo criar um novo adágio: “o querer é do homem, mas o poder é de Deus”. Não basta querer, é necessário crer (Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.Hb 11:6 - NVI). Isso também foi verdade na vida de Naamã (2 Rs 5:11).

Muitas pessoas acabam por ficarem frustradas, na ânsia de quererem se ver libertas (querer), ou porque não recorreram a Deus (crer), ou porque tentaram fazê-lo pelas suas próprias forças, sem buscar apoio de outros (familiares, amigos, irmãos na fé, líderes, pastores etc.). A vergonha, o orgulho, a presunção, a autossuficiência, impedem que a pessoa busque o suporte de outrem. É melhor lutar acompanhado do que acreditar tolamente que se pode vencer sozinho (É melhor haver dois do que um, porque duas pessoas trabalhando juntas podem ganhar muito mais.Ec 4:9 - NTLH).

Outro fator que leva as pessoas à desistência é o desejo de que as coisas aconteçam logo, instantaneamente até. Não podemos perder de vista que estamos falando na restauração de uma vida. Se a restauração do um artefato pode requerer um tempo maior, muito mais será necessário para reconstruir uma vida em ruinas. Por isso, é imperativo que se tenha esperança, paciência e perseverança. Essa tríade é fundamental para que Deus devolva aquilo que perdemos. Note que Deus não precisa de tempo para promover a restauração em nós. O tempo não é para Deus; é para nós mesmos. (É perseverando que vocês obterão a vida. Lc 21:19 – NVI; Eis que temos por felizes os que perseveram sempre.Tg 5:11).

Conclusão:

Quantos “leprosos” estão em nosso meio, desejando ardentemente a cura do Senhor em sua vida? Mas, contraditoriamente, não estão dispostas a pagar o preço. Nos tempos bíblicos, a lepra era uma doença que não poderia ser curada pelos meios naturais. Por esse motivo, tal doença é o símbolo do pecado. Muitos (senão todos) declaram que querem uma vida melhor; alguns até acreditam que podem alcançar; mas, querem que as coisas aconteçam naturalmente. Entenda que Deus age no sobrenatural. De nada adiantará a vontade, a falsa fé (crendice), bem como todo o suporte material e humano, se não houver uma entrega completa ao Senhor que pode restaurar toda a sua vida.
 
A Deus toda glória!
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  • Palestra ministrada em 19/02/2012, durante o 8º Retiro Espiritual da ICM, cujo tema foi "Tempo de Restauração", ocorrido entre os dias 18 e 22/02/2012.
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