“O meu espírito desanima; o meu coração está em pânico.” (Sl 143:4)
É bem provável que todos já
tenham passado, pelo menos uma vez, por alguma situação ou circunstância em que
a saída mais plausível parecia ser a desistência de tudo, que a melhor coisa a
fazer seria “jogar a toalha”.
Tem horas que a dor parece
insuportável, que a solidão parece ser a melhor companhia, que os melhores
amigos faltam, que a família deixa de ser um “porto seguro”, que a alegria dá
lugar à completa tristeza, que não temos mais força para lutar…
Quantos sonhos foram abandonados,
porque deixamos de acreditar neles? Quantos planos aparentemente promissores e
boas ideias foram esquecidos? Quantas vezes, em nossa jornada, somos
convencidos a mudar de rumo ou mesmo a voltar atrás?
Mesmo que não tenhamos tido a
experiência ou enfrentado problemas da magnitude deles, a trajetória de muitos
personagens bíblicos (alguns deles até anônimos) tem muito a nos ensinar.
Lutando contra a multidão (Mc
5:21-34)
Você já deve ter lido um
sem-número de vezes e ouvido pelo menos uma vintena de vezes sobre a história
da mulher-com-fluxo-de-sangue: havia
doze anos que ela sofria da doença, já tinha gastado todos os recursos
possíveis e prováveis, recorrera a inúmeros médicos (talvez até mesmo a
práticas desaconselháveis, como a feitiçaria), sua situação só se agravava…
Num belo dia, ela ouve falar de
Jesus, que ele estaria de passagem por ali. Decidiu, naquele momento, que seria
a sua grande oportunidade. Mas havia um problema: entre ela e Jesus estava uma
multidão, fazendo uma espécie de “cordão de segurança”. Ela então disse “não”
para seu próprio orgulho e lutou contra a multidão, o suficiente apenas para
alcançar a orla das vestes dele. Pronto! Naquele momento, cessava o fluxo, e os
doze anos de sofrimento.
Vencendo as oposições (Lc 18:35-43)
E o que dizer de outro anônimo,
identificado como Bartimeu (Mc 10:46), que, além de mendigo, era cego? Não
encontramos nos textos bíblicos nada mais a respeito de seu problema, se se
tratava de uma doença adquirida ou de nascença. O fato era que o mesmo jazia à
beira do caminho, pedindo esmola, tendo sido, provavelmente, ignorado pelos
familiares, se é que tinha algum…
É sabido que, quando desprovidos
de um dos sentidos ou órgão, acabamos por aguçar a percepção de outro sentido
ou órgão, para compensar. Ora, se Bartimeu não podia ver, ainda dispunha de sua
audição e da fala. Ouvindo o murmúrio de uma multidão passando, quis saber o
que estava acontecendo. Quando disseram que era Jesus de Nazaré quem passava,
não poupou fôlego, gritando pela ajuda do Mestre. Só que algumas pessoas
simplesmente se incomodaram e pediram para que o indigente se calasse. Mesmo
sob o protesto de seus opositores, Bartimeu continuou a chamar por Jesus, até
que foi atendido.
Passando por cima dos obstáculos
(Lc 19:1-10)
Esse outro personagem pode ser
considerado um pouco mais popular. Talvez sua popularidade se deva, unicamente,
ao fato de o mesmo ser um cobrador de impostos (publicano, para usar o termo
tradicional), o que quer dizer que estamos nos referindo a uma figura pública,
por definição. Entretanto, a reputação dos profissionais da sua estirpe era
afetada por, pelo menos, dois fatores: primeiramente, os publicanos eram
funcionários do governo romano, que tiravam o dinheiro suado dos judeus para
enriquecer os cofres do império; segundo, porque extorquiam em proveito
próprio, sobretaxando os impostos para garantir o seu “quinhão”. Vale destacar
que aqui não temos apenas um publicano. Zaqueu era uma espécie de chefe da categoria
(Lc 19:2).
Zaqueu não tinha, pelo que se
sabe, nenhuma doença, nenhuma anomalia, que Jesus pudesse curar. Apesar disso,
ele precisava ver o Mestre. Mas, a exemplo da nossa primeira personagem, havia
uma multidão que o impedia de chegar ao seu objetivo. Há um detalhe aqui a ser
considerado: alguns podem argumentar que a multidão seria o problema de Zaqueu,
mas veja que o problema estava nele mesmo – sua baixa estatura. É comum, diante
de uma dificuldade, querermos identificar na “multidão” o problema, quando na
verdade está em nós mesmos. Uma vez reconhecida a sua limitação, Zaqueu
procurou uma árvore para escalar e, enfim, conseguir o que desejava.
Conclusão
Desistir é uma opção, uma via, um
caminho a ser trilhado. Cabe unicamente a você escolher por continuar sua
jornada ou abortá-la. Não culpe “a multidão” pelos seus insucessos. Reconheça
suas limitações a concentre seus esforços para minimizá-las. Lembre-se que a
multidão poderá fazer de tudo para impedi-lo, mas a decisão é sua.
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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 09/07/2018.