"Da multidão dos que creram, uma era a mente e o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham. (...) Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um. José, um levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé, que significa 'encorajador', vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos." (At 4:32-37).
Para quem é adepto do modelo de
discipulado chamado MDA (Modelo de Discipulado Apostólico), não é novidade
falar de uma das 4 colunas, conhecida como “Fator Barnabé”.
O Fator Barnabé é , como sabemos, a quarta coluna do modelo, que
recebeu esse título de um cristão identificado no livro de Atos como José (At
4:36). José era um levita, natural da famosa ilha mediterrânea de Chipre, a
quem os apóstolos apelidaram de Barnabé, palavra que significa “filho da
consolação”, que também pode ser traduzida como “consolador”, “encorajador”,
“ajudador”.
Para entendermos em que consiste
o Fator Barnabé, é imprescindível
considerar as qualidades do próprio personagem bíblico. Vejamos:
1. Apresentou Saulo aos apóstolos
(At 9:26-31).
Após a conversão de Saulo, este
passou vários dias na companhia dos discípulos em Damasco, pregando nas
sinagogas algo que os judeus nunca imaginariam: Jesus é o Filho de Deus.
Incomodados, os judeus decidiram por matá-lo, mas os discípulos o ajudaram a
fugir. Ao chegar em Jerusalém, Saulo procurou os apóstolos para estar com eles.
Ocorre que todos temiam não ser verdade que Saulo havia se convertido ao
Evangelho.
Foi nesse momento que Barnabé
interveio, levando Saulo até a presença dos apóstolos e contando-lhes tudo o
que acontecera ao antigo inimigo dos cristãos, no caminho de Damasco.
Veja que, naquele momento, Saulo
não era bem visto pela comunidade dos apóstolos. Muitas vezes, será necessário assumir o papel de integrador, intervindo quando diante de certas pessoas
que são rejeitadas.
2. Encorajou os novos irmãos em
Antioquia (At 11:19-24).
Com a morte de Estêvão (At
7:54-60), seguiu-se intensa perseguição contra a igreja em Jerusalém, causando
uma dispersão generalizada dos cristãos pelas regiões da Judéia e Samaria,
excetuando-se os apóstolos (At 8:1).
Os irmãos dispersos chegaram a
localidades como Fenícia, Chipre e Antioquia, cuja população era composta
predominantemente por gentios. Quando os dispersos chegaram a essas
localidades, procuravam levar a mensagem apenas aos judeus. Entretanto, um
grupo deles, formado por cireneus e cipriotas, foi a Antioquia (cidade síria
que tinha cultura grega) e decidiu levar a palavra também aos gregos, o que
levou muitos a crerem em Jesus.
Quando os apóstolos souberam o
que aconteceu em Antioquia, enviaram Barnabé para lá. Ao chegar, Barnabé se
alegrou com aqueles irmãos gregos e os animou a permanecerem fieis ao Senhor,
de todo o coração. Foi para isso que
Deus nos chamou: para encorajarmos uns aos outros.
3. Passou um ano ensinando os
novos irmãos em Antioquia (At 11:25-26).
Depois de desempenhar importante
papel junto aos irmãos de Antioquia, Barnabé foi até a cidade de Tarso em busca
de Saulo e o levou consigo a Antioquia. Ali estiveram por um ano, ensinando a
igreja local. Como é sabido, foi nessa cidade que os discípulos foram chamados
pela primeira vez de cristãos.
Ser um Barnabé é implantar a
mentalidade do reino na vida dos novos irmãos; é fazer com que eles se
identifiquem como cristãos (discípulos de Cristo).
4. Acreditou no potencial de João
Marcos (At 15:37-39).
Paulo convidou Barnabé para
voltarem às localidades onde haviam pregado a palavra, de modo a saberem como
estariam os irmãos. Barnabé sugeriu levarem junto João Marcos, seu primo, como
colaborador, mas Paulo não concordou, visto que este já os havia abandonado em
outra ocasião, na Panfília (At 13:13). Isso acabou gerando um desentendimento
entre Paulo e Barnabé. Paulo seguiu com Silas; Barnabé foi para Chipre, levando
Marcos consigo. A partir daí, não vemos mais nenhuma citação de Barnabé.
Em um primeiro momento, podemos
pensar que Paulo estaria com a razão, uma vez que Marcos teria demonstrado não
ser confiável. Mas, mais tarde, ao escrever aos Colossenses, Paulo recomenda
Marcos aos irmãos daquele local, pedindo para que ele fosse bem recebido,
quando passasse por lá (Cl 4:10). A Timóteo, Paulo diz que Marcos lhe era “útil
para o ministério” (2 Tm 4:11). O que significa que Barnabé estava certo ao
querer investir na vida de seu primo. Acredita-se que esse mesmo João Marcos
(filho de Maria) tenha sido o autor do Evangelho de Marcos.
Um Barnabé vai sempre
acreditar no potencial e na capacidade das pessoas, mesmo que o passado deponha
contra elas.
5. Investiu no ministério dos
apóstolos (At 4:36-37).
Como sabemos, a comunidade cristã
do tempo dos apóstolos era marcada pelo amor, pela unidade, pela comunhão (koynonia), e pela liberalidade, na
medida em que compartilhavam tudo o que tinham.
Aqui encontramos a primeira
referência a Barnabé. Como um dos maiores exemplos de liberalidade, vendeu uma
propriedade e depositou o dinheiro aos pés dos apóstolos. Essa é uma atitude típica de um Barnabé:
ser comprometido com o reino, investindo o que estiver ao seu alcance. Veja
que a ênfase aqui não é o montante, o quantitativo, mas a atitude, a qualidade.
Conclusão
Todas as qualidades de um Barnabé apresentadas: integrar,
encorajar, ensinar, acreditar no potencial e investir no reino, só são
evidenciadas quando a pessoa é cheia do Espírito Santo:
“Barnabé era um homem bom, cheio
do Espírito Santo e de fé. E muitos se converteram ao Senhor.” (At 11:24)
Mais do que ser um cristão, você
foi chamado por Deus para ser um verdadeiro Barnabé,
para ser uma pessoa que está comprometida com a integração, encorajamento e
ensino dos novos, que acredita no valor intrínseco das pessoas, que se alegra
em poder investir aquilo que dispõe em prol da causa do Evangelho.
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* Inspirada em texto publicado na
página https://prandrelda.wordpress.com/fator-barnabe/
* Mensagem pregada na Igreja de
Cristo Missionária – ICM, em 08/01/2017.