Quando lemos esse episódio dos evangelhos em que o apóstolo Pedro negou o Senhor Jesus, é comum sermos acometidos por uma série de sentimentos como: indignação, admiração, revolta, decepção, surpresa… E com você não deve ser diferente. Isso é perfeitamente compreensível, se considerarmos que: Pedro foi um dos primeiros discípulos a ser chamados por Jesus (Mt 4:18-21); Pedro era um dos três discípulos que, tudo indica, eram os mais íntimos do Mestre (Mt 17:1; Mc 5:37; Mc 14:33; Lc 8:51); Pedro, ao que parece, era o discípulo com mais iniciativa, espontaneidade e ousadia, tendo muitas de suas atitudes registradas com destaque nos evangelhos (andou sobre as águas – Mt 14:28,29; foi ele quem disse que Jesus era “o Cristo, o filho do Deus vivo”, quando o Senhor questionou sobre quem eles pensavam ser ele – Mt 16:15-17; foi Pedro quem declarou: “Senhor, para quem iremos, se tu tens as palavras da vida eterna?” – Jo 6:66-68; foi Pedro quem propôs ao Senhor que não lavasse somente seus pés, mas o corpo todo – Jo 13:6-9; foi Pedro quem tomou a iniciativa de defender o Mestre, quando este foi preso pelos soldados romanos, no Getsêmani, cortando a orelha de Malco – Jo 18:10; quando Jesus previu que todos os seus discípulos o abandonariam, foi Pedro o primeiro a declarar: “ainda que todos te abandonem, eu nunca te abandonarei” – Mt 26:31-33, e depois: “mesmo que seja preciso que eu morra contigo, nunca te negarei” – Mt 26:35).
Tu
és Pedro
Esse é Pedro. Judeu arraigado aos costumes e padrões de seu povo
e sua religião, seu nome de circuncisão era Simão, mas ganhou o sobrenome de Cefas (palavra aramaica para Pedro, que em grego significa “pedra”,
“rocha”) (Jo 1:42). Filho de João (ou Jonas), era irmão de André, que também se
tornou discípulo do Mestre, e foi por este apresentado ao Senhor (Jo 1:40-42). Assim
como seu irmão, Pedro era galileu da cidade de Betsaida (“casa da pesca”, em
hebraico), que ficava na margem nordeste do Mar da Galiléia, que também era
chamado de Mar de Tiberíades ou Lago de Genesaré, mas tinha residência em
Cafarnaum, também na região da Galiléia. Assim como o seu irmão, e boa parte
dos demais discípulos (pelo menos a metade dos doze era formada por
pescadores), Pedro era pescador por profissão, daí porque foi convidado pelo
Senhor para ser “pescador de homens” (Lc 5:10). Era, de longe, o mais
impulsivo, precipitado e sanguíneo dos discípulos de Jesus, talvez por esse
motivo tenha se tornado um dos principais líderes da igreja em Jerusalém. Após
a ascensão de Jesus ao céu, foi ele quem fez a primeira pregação, após a qual,
quase três mil pessoas foram batizadas (At 2:41).
Negando
Jesus
Voltamos ao momento da negação. Os evangelhos relatam que, após
a prisão do Senhor, no jardim do Getsêmani, este foi levado à presença do sumo
sacerdote. Nessa ocasião, Pedro de longe os seguia. Sendo abordado por
circunstantes, por três vezes rebateu a acusação de fazer parte do grupo que
acompanhava Jesus. Na terceira vez, após ter o galo cantado, o Mestre o fitou,
e ele lembrou as palavras que previram a sua negação (Lc 22:61).
Veja que os evangelhos não informam que, nesse primeiro momento,
outros discípulos tenham acompanhado o Mestre, mas apenas Pedro. Ao que parece,
ele decide voluntariamente saber em que tudo aquilo daria. Não contava, porém,
que alguém o reconheceria. No olhar de Jesus, Pedro parece ter ouvido o Senhor
falar: “Eu o avisei, Pedro”.
Pedro:
um arquétipo de cristão?
Todos aqueles sentimentos que foram mencionados no início desta
mensagem, além de muitos outros que não foram citados, podem nos ocorrer.
Entretanto, o apóstolo pode perfeitamente ser visto como tipificando os
cristãos de nossos dias. A ideia pode não parecer muito agradável, não é mesmo?
Mas, pense um momento em suas próprias atitudes, em suas
próprias respostas ao chamado do Mestre, em suas próprias desculpas diante de
sua Palavra, em suas próprias justificativas quando confrontado em relação aos
seus pecados. Quantas vezes você tem negado o Senhor, seja pública ou
reservadamente? Você pode criticar Pedro por ter negado por três vezes o seu
Senhor, mas talvez você tenha feito isso durante a sua vida inteira.
Você nega Jesus todas as vezes que tenta dar justificativas para
não segui-lo; você nega Jesus sempre que decide, voluntariamente, continuar
levando a mesma vida, praticando as mesmas coisas, mesmo sabendo que suas
atitudes são reprováveis; você nega Jesus quando busca sempre seus próprios
interesses, em detrimento dos interesses comuns dos outros irmãos; você nega
Jesus sistematicamente no momento em que ignora a comunhão dos irmãos,
preferindo a companhia dos “circunstantes”, mesmo sabendo que eles lhe
afastarão ainda mais do Mestre; você nega Jesus quando deixa de congregar-se,
acreditando que é possível “ser crente em casa” ou que “não precisa ir a igreja
pra ser crente”; você nega Jesus sempre que se recusa a ser participante do
grande ministério da contribuição, retendo dízimos e/ou ofertas, acreditando
que “Deus não precisa do seu dinheiro, mas do seu coração”; você nega Jesus
todas as vezes que escolhe fazer sua própria vontade, ignorando a vontade do
Mestre; você nega Jesus quando insistentemente não considera o seu chamado, o
seu ministério, as suas habilidades (dadas por Ele), preferindo fazer aquilo
para o qual não foi chamado(a), ou ainda sendo um mero expectador; você nega
Jesus quando não dá testemunho público e notório da obra que Deus continua
fazendo em sua vida; você nega Jesus quando se recusa a compartilhar com outros
a mensagem do Evangelho.
Conclusão
Neste momento, o Senhor está olhando pra você, como fez com Pedro.
Ele está mirando, não o seu rosto, mas contempla o seu coração. Ele sabe,
perfeitamente, e pode enumerar todas as vezes que você o negou. Mas, na
realidade, o importante não é a quantidade de negativas ao Mestre. O que
importa mesmo é que, no final, você possa lembrar as palavras dele e
arrepender-se (Lc 22:61), reconhecendo que só Ele pode restaurar a sua vida e
fazer de você um verdadeiro “pescador de almas”.
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Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 18/05/2014.