"Depois dessa conversa de Davi com Saul, surgiu tão grande amizade entre Jônatas e Davi que Jônatas tornou-se o seu melhor amigo. Daquele dia em diante, Saul manteve Davi consigo e não o deixou voltar à casa de seu pai. E Jônatas fez um acordo de amizade com Davi, pois se tornara o seu melhor amigo. Jônatas tirou o manto que estava vestindo e o deu a Davi, com sua túnica, e até sua espada, seu arco e seu cinturão." [1 Sm 18:1-4 - NVI]
14 de fevereiro é conhecido como o “dia da amizade”. Você pode
argumentar que a data é mais um daqueles estratagemas comerciais para convencer
as pessoas a adquirir produtos e serviços. Em outras palavras, a boa e velha
“jogada de marketing”. É até provável que, em sua origem, a criação desse dia
tenha considerado, primariamente, objetivos comerciais. Entretanto, não se pode
perder de vista a importância da amizade.
Que tipo de amigo temos sido nestes dias? Será que nossas
amizades passam pelo teste da lealdade? Estamos dispostos a enfrentar as
intempéries da vida em nome da amizade?
Mais
chegado que um irmão
“Há amigo mais chegado que um irmão” (Pv 18:24). O
provérbio é conhecido, a verdade contida nele também. Não se podem negar os
laços familiares. Todavia, há que se considerar que algumas amizades conseguem
a proeza de superar a cumplicidade e a proximidade, que são características tão
próprias da família.
Estranhamente, muitas relações antes amigáveis têm-se revelado
frágeis diante das adversidades. Temos visto muitas amizades, que eram vistas
como baluartes da solidez, cedendo lugar a desconfianças e suspeitas. Ao que
parece, os antigos “amigos chegados” estão descobrindo (maximizando?) os
defeitos dos outros, ou ainda comparando-os com os próprios, e, em consequência
disso, a cumplicidade já não pode ser notada, muito menos a proximidade.
Apesar de concordar que, em muitos casos, a hipótese anterior
seja verdadeira, o Livro dos Provérbios apresenta pelo menos duas razões por
que amigos podem deixar de ser “mais chegados do que um irmão”:
“O homem perverso espalha contendas, e o difamador separa os
maiores amigos” (Pv
16:28). Amizades leais morrem quando os amigos começam a dar vasão a
“homens perversos”, ou então quando se aproximam de “difamadores”.
“O que encobre a transgressão adquire amor, mas o que traz o
assunto à baila separa os maiores amigos” (Pv 17:9). Uma das melhores qualidades
das verdadeiras amizades é a capacidade de guardar confidências. Amigos
verdadeiros, portanto, são aqueles que conseguem guardar segredo. Leia também: Pv
11:13; 20:19; 25:9.
Amigo
de todas as horas
“Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (Pv 17:17). O
conceito de amigo tornou-se banalizado em nossos dias. Chamamos de amigo para
qualquer conhecido, até mesmo um estranho tratamos como “amigo”. Obviamente,
muitas vezes estamos apenas praticando o que chamamos de “política da boa
vizinhança”. Mas, a questão é como tratamos como desimportante a figura do
amigo. O texto bíblico fala da necessidade de praticarmos a amizade “em todo
tempo”. Porém, o que vemos é que nossas amizades estão limitadas por relações
circunstanciais. Em outras palavras, a amizade permanece enquanto a situação
for favorável, enquanto o outro está bem. Nesse sentido, parafraseando a
parábola de Jesus, tais amizades são como a casa construída sobre a areia que,
quando vem o tempo mau, não resiste, tornando-se grande a sua ruína (cf. Mt 7:26-27).
“Não abandones o teu amigo” (Pv 27:10). Os
amigos verdadeiros são atemporais, não-circunstanciais, invariáveis e,
portanto, não dependem da ocasião para expressar seu amor pelo outro.
Amizade
e lealdade
Um dos melhores exemplos encontrados no relato bíblico sobre
amizade e lealdade é aquele narrado sobre Davi e Jônatas. Ao considerarmos o pano
de fundo da história, vamos concordar que a amizade deles tinha tudo para dar
errado: Davi era o mais novo dos oito filhos de Jessé, aquele que foi escolhido
por Deus e ungido por Samuel para ser o novo rei de Israel (1 Sm 16:11-13), em substituição a Saul,
que fora rejeitado por Deus (1 Sm 16:1).
Jônatas era um dos filhos do rei Saul e tornou-se o melhor amigo de Davi (1 Sm 18:1-5). O rei Saul, a despeito de
ter colocado Davi como chefe de tropas de seu exército, começou a enciumar
deste, sobretudo porque sua estima em Israel se elevara e sobrepujara a do
próprio rei (1 Sm 18:6-9). A partir
daí, Saul passou a alimentar o desejo de acabar com a vida de Davi (1 Sm 18:10-15; 19:1; 19:9-11).
Esse é o cenário da amizade entre Davi e Jônatas, servindo de
referencial para todas as relações amigáveis de nossos dias. A fidelidade e
lealdade de ambos venceu toda e qualquer contrariedade, inclusive, e
principalmente, a relacionada às suas famílias. Jônatas poderia ter todos os
motivos para aderir ao sentimento que seu pai desenvolveu dentro de si por
Davi. Ao contrário, quando teve oportunidade, Jônatas intercedeu por seu amigo
(1 Sm 19:1-7), chegando até mesmo a
enganar seu pai em favor daquele (1 Sm
20:18-34).
Na sequência desse último episódio, antes de Davi fugir para não
ser morto pelo rei, ocorre a despedida dos dois amigos. Após Davi prostrar-se
com o rosto em terra por três vezes, os amigos cumprimentaram-se com um amoroso
ósculo e choraram juntos. E, por fim, Jônatas diz a Davi: “Vá em paz, pois temos jurado um
ao outro, em nome do Senhor, quando dissemos: ‘o Senhor para sempre é
testemunha entre nós e entre os nossos descendentes’” (1 Sm 20:42 – NVI).
Conclusão
Tomara o Senhor nos abençoe com a mesma bênção que receberam Davi e Jônatas, fazendo com que nossas amizades estejam blindadas das intempéries tão frequentes em nossos dias. Que haja em nós o mesmo sentimento de lealdade e cumplicidade, que marcaram a amizade entre Davi e Jônatas.
__________________________________
* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 16/02/2014.