"Então Jesus disse a eles: - O meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho." [Jo 5:17 - NTLH]
Desde a criação, o homem tem-se questionado sobre a sua
existência e, após o Pecado Original, ainda há quem discuta acerca do aspecto
da perfeição da chamada “obra prima de Deus”. De fato, o homem foi criado um
ser perfeito? Se Deus fez o homem perfeito, por que razão este veio a lhe
desobedecer? E depois da queda, é possível ainda alcançar a perfeição? O que é
preciso para alcançá-la?
Imagem
de Deus
De acordo com o relato bíblico, Deus fez o homem “à sua imagem e
semelhança” (Gn 1:26-27). É sabido
que isso não tem a ver com o aspecto físico, uma vez que o Criador é um ser
essencialmente espiritual (Jo 4:24).
No Antigo Testamento, a palavra hebraica usada para espírito é “ruach” (vento, sopro, fôlego,
respiração). Isso explica porque Jesus usou a figura do vento, quando falava ao
fariseu Nicodemos sobre a ação do Espírito: “O vento sopra onde quer, ouves a
sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é
nascido do Espírito” (Jo 3:8).
Dizer que o homem foi feito à imagem de Deus significa que ele (o homem)
reflete o seu Criador, que ele foi criado para representá-lo na Terra; daí
porque o próprio Deus, ao criá-lo, decretou: “tenha ele domínio…” (Gn 1:26).
Concebidos
em pecado
Apesar de concordar que Deus fez o homem um ser prefeito (“Eis
o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas
astúcias.” – Ec 7:29), há
que se considerar que os atributos originais do homem – dentre eles a
perfeição – foram ofuscados pela Queda. Conforme o primeiro livro da Bíblia, o Pecado
Original trouxe consequências não somente para o homem, mas para toda a criação
(Gn 3:14-19).
O rei Davi declarou: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me
concebeu minha mãe” (Sl 51:5).
Isso acontece porque o pecado de Adão passou para todos os seus descendentes,
como o apóstolo Paulo evidenciou: “Portanto, assim como por um só homem entrou
o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos
os homens, porque todos pecaram” (Rm
5:12). Você e eu somos descendentes de Adão e, por conseguinte, herdeiros,
desde o nascimento, de todas as nefastas consequências do pecado dele. Mas,
talvez você esteja se questionando: se não cometemos os pecados que o primeiro
homem cometeu, por que temos de sofrer as consequências? Veja o que diz o
apóstolo:
“… pois antes de ser dada a Lei, o pecado já estava no mundo.
Mas o pecado não é levado em conta quando não existe lei. Todavia, a morte
reinou desde o tempo de Adão até o de Moisés, mesmo sobre aqueles que não
cometeram pecado semelhante à transgressão de Adão, o qual era um tipo
daquele que haveria de vir. Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a
transgressão. De fato, muitos morreram por causa da transgressão de um só
homem, mas a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só, Jesus Cristo,
transbordou ainda mais para muitos. Não se pode comparar a dádiva de Deus com a
consequência do pecado de um só homem: por um pecado veio o julgamento que
trouxe condenação, mas a dádiva decorreu de muitas transgressões e trouxe justificação.
Se pela transgressão de um só a morte reinou por meio dele, muito mais aqueles
que recebem de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da justiça reinarão
em vida por meio de um único homem, Jesus Cristo. Consequentemente, assim como
uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um
só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens.
Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos
pecadores, assim também, por meio da obediência de um único homem muitos serão
feitos justos.” (Rm
5:13-19 NVI)
Deus
ainda está trabalhando!
Portanto, paremos com a história de querer lidar com pessoas
perfeitas. Ao que parece, foi isso o que o apóstolo quis dizer aos romanos: “como
está escrito: não há justo, nem um sequer…” (Rm 3:10), concordando com o que o
salmista declarou: “Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há
justo nenhum vivente.” (Sl
143:2)
Mas, talvez alguém argumente que o próprio Jesus disse que devemos
ser perfeitos: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai
celeste” (Mt 5:48); além do
apóstolo, que, em certo momento, disse: “Todos, pois, que somos perfeitos,
tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto
Deus vos esclarecerá.” (Fp 3:15)
Entretanto, os estudiosos e biblistas de plantão podem confirmar
que o termo “perfeitos”, nos dois exemplos citados, significa, literalmente,
“maduros”, “adultos”, “crescidos”. Logo, a perfeição aqui não diz respeito à ausência
de falhas, mas à inteira capacidade de discernir e decidir. No mesmo texto aos
filipenses, o apóstolo nos dá essa compreensão: “Não que eu o tenha já recebido
ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que
também fui conquistado por Cristo Jesus.” (Fp 3:12)
Alguém já disse que somos seres em mutação. Estamos em um
processo de contínua transformação, sobretudo os cristãos, que dia após dia são
desafiados a se aproximarem de seu modelo, que é Cristo: “até que todos cheguemos à
unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais
sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por
todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem
ao erro.” (Ef 4:14-15)
Então por que somos tão taxativos com as pessoas com relação aos
erros delas? Por que exigimos tanto dos outros o que nós mesmos não podemos
oferecer? Não seria esse um dos motivos que afastam as pessoas da igreja? Você
já parou pra pensar em quantos pecadores não se sentem constrangidos de entrar
em uma igreja, porque muitos crentes passam uma imagem de infalíveis ou de
“certinhos”?
Conclusão
Desculpe se você não consegue ver perfeição. O que acontece é
que a obra do Senhor ainda não está completa em nós: “Estou plenamente certo de que
aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo
Jesus.” (Fp 1:6)
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* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, no culto de celebração de 06/10/2013.