"Há alguns que se fazem de ricos, e não têm coisa nenhuma, e outros que se fazem de pobres e têm muitas riquezas." [Pv 13:7 - ACF]
A chamada Teologia da
Prosperidade é mais uma daquelas facetas do universo evangélico, as quais
são capazes de, ainda que polemizando, atrair a atenção de jornalistas,
celebridades, críticos ou curiosos de plantão. Afinal, quem ainda não acompanhou
no noticiário algum caso ou denúncia envolvendo as supostas fortunas de
pastores e líderes evangélicos? E o que dizer das denúncias de enriquecimento
ilícito e charlatanismo?
Ao falarmos de prosperidade, podem nos ocorrer indagações acerca
de sua licitude. Afinal, existe alguma incompatibilidade entre a fé evangélica
e a prosperidade? A despeito do chamado “voto de pobreza”, existe algum
problema em o crente experimentar uma vida abastada?
A
prosperidade na Bíblia
A primeira grande controvérsia envolvendo a Teologia da Prosperidade
é a que diz respeito à questão: é errado ser crente e rico ao mesmo tempo? E a
outra é: pode um crente fiel a Deus passar dificuldades financeiras?
Na Bíblia, encontramos inúmeros relatos de pessoas que tiveram
uma vida abastada. Aliás, grande parte dos personagens bíblicos, sobretudo
aqueles das histórias veterotestamentárias, foram homens de muitas posses. De
Abrão, lemos: “Era Abrão muito rico; possuía gado, prata e ouro” (Gn 13:2). Jacó: “E o homem se tornou mais e mais
rico; teve muitos rebanhos, e servas, e servos, e camelos, e jumentos”
(Gn 30:43). Salomão: “Assim,
o rei Salomão excedeu a todos os reis do mundo, tanto em riqueza como em
sabedoria” (1 Rs 10:23).
Josafá: “O SENHOR confirmou o reino nas suas mãos, e todo o Judá deu presentes
a Josafá, o qual teve riquezas e glória em abundância” (2 Cr 17:5). Ezequias: “Teve
Ezequias riquezas e glória em grande abundância; proveu-se de tesourarias para
prata, ouro, pedras preciosas, especiarias, escudos e toda sorte de objetos
desejáveis” (2 Cr 32:27).
Jó: “Havia
um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus
e que se desviava do mal. (…) Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos,
quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; era também mui numeroso o
pessoal ao seu serviço, de maneira que este homem era o maior de todos os do
Oriente.” (Jó 1:1,3)
Até mesmo no Novo Testamento, encontramos várias personagens
identificadas como ricas. José de Arimatéia: “Caindo a tarde, veio um homem
rico de Arimatéia, chamado José, que era também discípulo de Jesus” (Mt 27:57). As mulheres que seguiam
Jesus: “Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de
aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze
iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos
malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete
demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas
outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens.” (Lc 8:1-3)
As Escrituras apresentam ainda várias promessas aos fiéis a
Deus, que vão de uma vida próspera a bênçãos espirituais:
“Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a
qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto
fizer prosperará.” (Sl 1:3)
“Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus
caminhos! Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem. Tua
esposa, no interior de tua casa, será como a videira frutífera; teus filhos,
como rebentos da oliveira, à roda da tua mesa. Eis como será abençoado o homem
que teme ao SENHOR! O SENHOR te abençoe desde Sião, para que vejas a
prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua vida, vejas os filhos de teus
filhos. Paz sobre Israel!” (Sl 128)
Se
a prosperidade é bíblica, qual o problema da teologia da prosperidade?
Veja que o problema não é exatamente a prosperidade, como ficou
comprovado a partir dos textos bíblicos acima. O problema reside no lugar em
que os bens materiais ocupam em minha vida. “Não te fatigues para seres rico;
não apliques nisso a tua inteligência.” (Pv
23:4)
Tem muito líder incentivando os seus seguidores a buscarem com
todas as forças a prosperidade material, o sucesso, e até mesmo a fama. A consequência
imediata é a perda de foco por parte dos fiéis. O que passa pela sua cabeça,
quando vê uma igreja cheia de pessoas fazendo uma espécie de “campanha da
vitória”? O que essas pessoas estão, de fato, buscando? Quantos você conhece
que chegaram a se desfazer de seus bens, com a promessa de “uma vida melhor”?
Veja o que diz Paulo: “Ora, os que querem ficar ricos caem em
tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as
quais afogam os homens na ruína e perdição. Exorta aos ricos do presente século
que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da
riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso
aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e
prontos a repartir.” (1 Tm 6:9,17-18)
Outro problema recorrente entre os adeptos dessa “teologia” é a forma
como encaram os reveses da vida, o que inclui problemas financeiros e de saúde.
Para eles, o crente fiel não passa por tais problemas. Se o irmão está enfrentando
situações da espécie, provavelmente é porque sua comunhão com Deus está
“capenga”.
Francamente, até parece que esse povo ainda não leu o que disse
Tiago: “Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação;
porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor
prometeu aos que o amam” (Tg 1:12). Além
disso, se crente não passasse por tribulações, Paulo não teria dito: “E
não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo
que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a
experiência, esperança.” (Rm 5:3-4)
Essa história de “colocar Deus na parede” parece que não tem
fim, nem a sede deles pela fortuna. Paradoxalmente, o que vemos é, em meio a
tudo isso, um evangelho “barato” sendo oferecido, onde não se espera entrega,
dedicação, tampouco fé do fiel, mas apenas uma oferta ou dízimo generosos.
A
prosperidade da teologia
Em lugar de apregoarmos essa tal teologia da prosperidade, que
tal optarmos pela prosperidade da Teologia?
Teologia, literalmente, significa “o estudo das coisas de Deus”. Portanto,
é mais saudável para o crente preocupar-se com as coisas de Deus, alimentar-se
com as coisas de Deus, suspirar e ansiar pelas coisas de Deus. É aquela velha
história de buscar o Deus das bênçãos em lugar das bênçãos de Deus. E qual a
diferença? É simples: quando você busca as bênçãos de Deus, pura e
simplesmente, está focando uma necessidade momentânea (a bênção); no momento em
que direciona sua atenção ao Deus das bênçãos, está mantendo o seu foco no
próprio Deus (o abençoador), e tudo o mais será apenas consequência (Mt 6:25-34).
Portanto, a verdadeira prosperidade está em buscar as coisas de
Deus (teologia). E que outra forma temos de buscar o conhecimento de Deus,
senão em sua Palavra?
Conclusão
Acreditamos, piamente, que o bom Deus não nos chamou para uma
vida de miséria, privação e provação, mas para uma vida abundante, como lemos
em Jo 10:10: “eu vim para que tenham vida e a
tenham em abundância.”
No entanto, no momento em focamos as bênção materiais, em lugar
de mirarmos o Deus Eterno, estamos, na realidade, perdendo o foco.
Urge que “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua
vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que
rega a terra.” (Os 6:3)
* Mensagem pregada na Igreja de Cristo Missionária - ICM, em 17/03/2013.
Referências:
* Todas as referências bíblicas citadas
foram retiradas da Bíblia On Line (www.blibliaonline.net),
versão em Português por João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada (ARA), e, quando citado, versão Almeida Corrigida Fiel (ACF).