"Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes, à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:" [1 Co 1:1-2 RA]
Não é difícil falar sobre
santos, em nossa realidade brasileira, em que a religiosidade e, por tabela, a
devoção aos ícones chega a níveis impressionantes. Exemplo disso são as
procissões que acontecem em diversas cidades de nossa nação, e, em especial, o
Círio de Nazaré, que acontece há mais de 200 anos [1], considerada a maior
procissão católica do mundo, atraindo mais de dois milhões de fiéis para as ruas
da capital paraense.
A devoção a santos, na forma como a conhecemos, remonta aos primeiros séculos da era cristã, notadamente, após a famigerada “conversão” do imperador romano Constantino ao cristianismo (em 312 a.D.), a partir da qual sacralizou diversas práticas e festas pagãs, dando início ao processo de sincretismo religioso que culminou com a criação da religião Católica (ou Catolicismo Romano), tendo como autoridade máxima a Igreja Católica Apostólica Romana, personificada por seu Sumo Pontífice, o Papa.
Os santos de cada dia
Na doutrina católica romana
são tantos os santos que há pelo menos um deles para cada dia do ano [2]. Nessa
quase infindável lista, encontramos desde referências aos conhecidos apóstolos
de Jesus, passando por outros personagens bíblicos importantes, como João
Batista, Maria e José, até os religiosos que passaram pela igreja romana ao
longo de sua história.
Curiosamente, apesar de o
Brasil ser considerado o maior país católico do mundo (64,4% da população, de
acordo com o Censo de 2010) [3], até o momento, a Igreja reconheceu apenas um
santo genuinamente brasileiro: Frei Galvão, canonizado em 11 de maio de 2007,
pelo papa Bento XVI, quando de sua visita ao Brasil [4].
Santos podres
Apesar de ser uma prática
reconhecida oficialmente pela Igreja Católica, a veneração a santos é condenada
na Bíblia e, portanto, pelo próprio Deus. Veja que dar o devido reconhecimento
a alguém, que legitimamente vive ou viveu servindo a Deus, é correto e que a
Bíblia corrobora (Rm 13:7-8). O
problema ocorre quando se evolui (ou involui?) da honra à devoção ou veneração,
que também podem ser consideradas adoração.
Nada obstante a adoração a
santos (personagens) já ser suficiente para a rechaçarmos, a teologia e
tradição católica ainda potencializam o problema, com as imagens. Apesar de os
teólogos, sacerdotes e autoridades católicas se defenderem de todas as formas,
apresentando diversas alegações, tais como: “não se trata de adoração, mas sim,
veneração, devoção”; “a prática de devoção a imagens é mostrada em diversas
passagens da Bíblia, como a Arca da Aliança”; “Deus não proibiu a devoção a imagens,
mas apenas quando substituímos o próprio Deus pelas mesmas”.
Ora, ora, definam como
quiserem, mas a iconoclastia católica é uma de suas principais marcas. E o que
dizer dos absurdos praticados por ditos “fiéis”, em nome de determinado
“santo”, como os sacrifícios e martírios, que lembram as religiões pagãs
antigas? Veja que isso não tem nada a ver com ignorar o exemplo de fé que
muitos personagens bíblicos, ou da História da igreja, deixaram. Uma coisa é a
pessoa, que deve ser lembrada por seus feitos (ainda que muitos deles tenham
ocorrido como resultado da mão de Deus, como no caso da operação de sinais e
milagres), outra, bem diferente, é fazer uso de uma gravura, estátua, ícone, ou
seja lá o que for, como se fosse o próprio Deus, quando não se precisa de muito
conhecimento exegético ou hermenêutico para discernir textos como:
“Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem” (Êx 20:3-5)
“Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens. Têm boca e não falam; têm olhos e não veem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam.” (Sl 115:4-8)
“Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de fundição, mestra de mentiras, para que o artífice confie na obra, fazendo ídolos mudos? Ai daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta! Pode o ídolo ensinar? Eis que está coberto de ouro e de prata, mas, no seu interior, não há fôlego nenhum.” (Hc 2:18-19)
“Todos os artífices de imagens de escultura são nada, e as suas coisas preferidas são de nenhum préstimo; eles mesmos são testemunhas de que elas nada veem, nem entendem, para que eles sejam confundidos. Quem formaria um deus ou fundiria uma imagem de escultura, que é de nenhum préstimo? Eis que todos os seus seguidores ficariam confundidos, pois os mesmos artífices não passam de homens; ajuntem-se todos e se apresentem, espantem-se e sejam, à uma, envergonhados. O ferreiro faz o machado, trabalha nas brasas, forma um ídolo a martelo e forja-o com a força do seu braço; ele tem fome, e a sua força falta, não bebe água e desfalece. O artífice em madeira estende o cordel e, com o lápis, esboça uma imagem; alisa-a com plaina, marca com o compasso e faz à semelhança e beleza de um homem, que possa morar em uma casa. Um homem corta para si cedros, toma um cipreste ou um carvalho, fazendo escolha entre as árvores do bosque; planta um pinheiro, e a chuva o faz crescer. Tais árvores servem ao homem para queimar; com parte de sua madeira se aquenta e coze o pão; e também faz um deus e se prostra diante dele, esculpe uma imagem e se ajoelha diante dela. Metade queima no fogo e com ela coze a carne para comer; assa-a e farta-se; também se aquenta e diz: Ah! Já me aquento, contemplo a luz. Então, do resto faz um deus, uma imagem de escultura; ajoelha-se diante dela, prostra-se e lhe dirige a sua oração, dizendo: Livra-me, porque tu és o meu deus. Nada sabem, nem entendem; porque se lhes grudaram os olhos, para que não vejam, e o seu coração já não pode entender. Nenhum deles cai em si, já não há conhecimento nem compreensão para dizer: Metade queimei e cozi pão sobre as suas brasas, assei sobre elas carne e a comi; e faria eu do resto uma abominação? Ajoelhar-me-ia eu diante de um pedaço de árvore? Tal homem se apascenta de cinza; o seu coração enganado o iludiu, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem dizer: Não é mentira aquilo em que confio?” (Is 44:9-20)
“pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!” (Rm 1:25)
Isso tudo me faz lembrar sobre a origem da expressão “santo do pau oco”.
Segundo historiadores, a expressão, que significa “algo ou alguém sem valor ou
falsa”, teve início provavelmente em Minas Gerais, entre o final do século XVII
e o início do século XVIII. Era o Período Colonial, o auge da mineração no
País. Para driblar a cobrança do "quinto", o imposto de 20% que a
Coroa Portuguesa cobrava de todos os metais preciosos garimpados no Brasil,
santos em madeira oca eram esculpidos e, posteriormente, recheados de ouro em
pó.
Cristianismo: um chamado à santidade
No texto de 1 Co 1:2, Paulo identifica a igreja
local como aqueles que foram “chamados
para ser santos”. Na realidade, o chamado a ser santo é para toda a igreja,
para todo aquele que recebeu o chamado de Jesus.
O termo “santo” nas línguas
originais nos faz entender melhor o propósito de Deus. A palavra hebraica para
santo é Qadash ou Kadosh, que tem o sentido de “cortar”,
“retirar”. Em grego, temos a palavra Hagios,
que indica algo que é “separado”, “distinto”.
Há que se considerar que,
apesar de o Senhor declarar: “Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pe 1:16), a santidade do cristão não
deve ser entendida como endeusamento, tampouco como uma espécie de mistificação
pessoal, nem ainda como um estado de perfeição. Quando Deus nos chama a
santidade, quer que entendamos, primeiramente, que somos (ou devemos ser) um
povo distinto, separado (literalmente, “cortado de”, “retirado”)(1 Pe 2:9). Isso não significa
predileção e/ou acepção de pessoas por parte do Senhor, até porque, em um
primeiro momento, o chamado é para todos (1
Tm 2:4).
Por outro lado, a santidade
também é uma escolha. Em última análise, quem decide ser santo ou não é o
próprio indivíduo. Exemplo disso são os ermitões, eremitas ou monges, que vivem
segregados do resto do mundo. Como tudo o mais na vida, a santidade começa
quando a pessoa decide ser santa, diferente, separada.
Conclusão
Há muito, Deus chamou um
povo, dentre todos os povos da Terra, para ser exclusivamente seu. Ainda hoje,
o Senhor tem buscado esse povo. Você e eu também fomos alcançados por esse
chamamento de Deus. No entanto, no final, a decisão é nossa. Podemos aceitar o
chamado de Deus e continuar tendo a mesma vida, os mesmos dissabores, as mesmas
decepções; ou ainda, podemos decidir por nos diferenciar dos demais,
tornando-nos verdadeiramente uma nação exclusiva dele.
* Esta mensagem foi pregada em 11/11/2012, na Igreja de Cristo Missionária - ICM.
[1] http://cultura.divulgueconteudo.com/371992-o-cirio-de-nossa-senhora-de-nazare
Referências:
[2] http://www.lepanto.com.br/catolicismo/vida-de-santos/cada-dia-tem-seu-santo/cada-dia-tem-seu-santo/
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%B5es_no_Brasil
[4] http://www.saofreigalvao.com/
http://www.estudosdabiblia.net/200125.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santo
http://noticias.terra.com.br/educacao/vocesabia/interna/0,,OI2939732-EI8402,00.html